quarta-feira, 4 de junho de 2008

Baco e o "Terroir"

"... Jupiter tomou então das cinzas o feto (Baco) ainda no sexto mês e meteu-o dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação.
Ao tornar-se adulto, Baco apaixona-se pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruta." in mitologia grega.
Parece que Baco foi o primeiro enólogo do universo. Que vinho faria Baco? Um Nectar dos Deus? eih... Mauzito? Aposto que sim. Como poderia ele fazer um vinho bom sem pesticidas, fungicidas e ervicidas e produtos enológicos? Teria Baco carvalho françês, leveduras seleccionadas, enzimas, alimentos para leveduras, controlo de temperatura, sulforoso e acido tartárico? e tostas aromatizadas? Talvez não!!!
Os defensores da biodinâmica aplicada às vinhas afirmam que existe menos vida numa vinha de Bordeaux, que no deserto do Saara. Porquê? Porque os pesticidas e afins matam toda a fauna e flora das vinhas, deixando com o passar dos anos apenas videiras debilitadas e pó seco. Depois na adega vêm os produtos enólogicos, iguais em todo o mundo que completam o ramalhete. Resultado? Vinhos normalizados, standarizados, bairradas tipo alentejo, alentejamos tipo bairrada, etc..., tudo com muita madeira e alta tecnologia. Vinhos ao gosto do mercado, onde o conceito de "terroir" se esbate e o vinho assume o seu papel de verdadeiro combatente nas prateleiras dos hipermercados.
"O ENÓLOGO CERTIFICA-SE QUE A NATUREZA SE VAI EXPRIMIR, COM A MAIOR CLAREZA POSSÍVEL, DENTRO DO COPO" (Andrew Jefford)

Será? Na maioria dos casos penso que não! Infelizmente. Mas existem excepções?
Felizmente muitas! Muitos vinhos aqui e no mundo respeitam o conceito de terroir, onde terra, clima e castas se combinam em verdadeira harmonia gerando grandes vinhos, verdadeiramente únicos. Estes aparecem no mercado a preços proibitivos é certo, mas são verdadeiros nectares do Deuses.
Note-se que em portugal nos últimos tempos têm aparecido alguns fenómenos interessantes. Existem já vinhos sem qualquer estágio em madeira e alguns enólogos trabalham apenas com leveduras indígenas. É um sinal que algo começa a mudar. O consumidor, o verdadeiro regulador do mercado, começa a enjoar tantos vinhos parecidos, produzidos aqui, no Chile, na Austrália, no Alentejo ou na Conchichina.

1 comentário:

Francisco disse...

Tás em grande. Mas acredita que o delicioso nectar a que dedicas o teu blog merece bem mais ser degustado que comentado. A não ser que seja de tal maneira espitituoso que te dê "ganas" de dedicação. Aí deixo-te sózinho. Na degustação faço-te companhia. Abraços