quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cão como nós


Habituámo-nos a ver Manuel Alegre como um símbolo da democracia, da liberdade e do espírito crítico, fazendo jus à mente necessariamente livre de um poeta. Mais, o Manuel Alegre assumiu-se nos últimos anos como a voz da descordância, a voz crítica para fora e sobretudo para dentro de um PS cada vez mais conspurcado, refém dos boys, dos interesses instalados e ensombrado por nuvens de corrupção. Este histórico militante do Partido Socialista foi de longe a voz mais incómoda para o partido que levou mais longe o conceito de governamentalização do país, desde a justiça à imprensa, das instituições às empresas públicas. Era uma voz temida fora e sobretudo dentro de uma partido rendido a interesses alheios ao interesse nacional. Esse contributo à democracia rendeu-lhe o apreço de mais de um milhão de portugueses, que nele votaram nas últimas eleições presidenciais, atirando o igualmente histórico Soares compulsivamente para a reforma dourada.
Até que, pasme-se, qual golpe de magia, a voz da indignação calou-se . O poeta retirou-se em profundo silêncio, mendigou o apoio do PS, vergou-se ao partido nada mais dizendo e, espera agora honrosamente ser eleito para a presidência da república, para acabar a sua vida política tal como a comecou - ao serviço do estado, vivendo à custa do estado como tantos outros, que viram no silêncio a melhor forma de trepar na política e na vida. Agora já nada tem para criticar. Está tudo bem! Este cão amordaçado não passa afinal de um rafeiro igual a tantos outros que ladram mas no momento do aperto escondem cobardemente o rabo entre as pernas. É que para mudo e calado já lá temos um. Chega!
*O título deste post reproduz o título de um dos livros do Poeta, que tal como muitos outros se calou, sendo conivente com o status quo deste pobre país.