quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ciganices


O clima de suspeitas e preconceitos sobre o povo rom é imemorial e sobre eles contaram-se inúmeras lendas, invariavelmente pondo-os sob desconfiança, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Caim, e portanto, malditos. Difundiu-se, entre outras, a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Cristo ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando assim mais dolorosa a crucificação de Cristo. A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura aumentaram as dúvidas e abriram campo o todo o tipo de fantasias, não lhes concedendo o estatuto de grupo étnico bem individualizado, ainda que por longo tempo haviam sido qualificados como Egípcios. Existem várias razões que explicam a obscuridade que envolve os ciganos. Em primeiro lugar, a cultura cigana é fundamentalmente ágrafa (só história oral) e despreocupada por sua história, de maneira que não foi preservada por escrito a sua procedência. A sua história foi estudada sempre pelos não ciganos, com frequência através de um cariz fortemente etnocentrista. Essa visão externa permitiu todo o tipo de leituras e distorções da história cigana.
O que é aceite pela maioria dos investigadores é que os ciganos eram originários da Índia e que abandonaram a sua terra natal em torno do ano 1000, para atravessar o que agora é o Afeganistão, Irão, Arménia e Turquia. Vários povos similares aos ciganos vivem hoje em dia na Índia, aparentemente originários do estado desértico de Rajastão.
Os Rom terão tido origem a partir de uma casta inferior do noroeste da Índia. Foram descritos como um povo que rejeitava viver da agricultura e terão partido, por causas desconhecidas, em direcção à Pérsia onde se dividiram em dois ramos: o primeiro, rumou a oeste, atingindo a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, chegando à Síria, Egipto e Palestina.
Os primeiros movimentos migratórios chegaram à Europa por volta do SEC. X e pensaram que seria proveitoso fazerem-se passar por cristãos do Egipto, perseguidos pelos muçulmanos e condenados ao perpétuo vaguear para expiar suas culpas. Fantasiaram acerca de suas próprias origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em parte como estratégia de protecção frente a uma população maioritária e agreste. Esse aspecto aumentou naturalmente a nuvem de incerteza sobre tal povo.
Devido à conquista territorial e política dos estados hindus, muitas caravanas rom partiram para a Europa, Oriente Médio e Norte da África e espalharam-se principalmente pelo continente europeu: Hungria, Austria e Boêmia, chegando à Alemanha em 1417. Em 1428, encontravam-se na França e Suiça e antes, em 1422 já tinham atingido a Bolonha. Em 1500, surgiram os primeiros ciganos ingleses. Os anos de 1555 a 1780 são marcados por um período de perseguições e intolerância, de verdadeira caça ao cigano ao ponto de hoje nos paises nórdicos, com a sua clássiva efeciencia, quase não existirem ciganos. Em vários países foram cometidos actos brutais contra os ciganos.
Os Roma, tradicionalmente nómadas, serão hoje cerca de vinte milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo. Só na Europa Central, existem cerca de quinze milhões.
Hoje os ciganos estão nas manchetes dos principais jornais europeus, por serem alvo de expulsões em paises como a Suécia, Dinamarca e Itália, e tendo seus acampamentos destruídos com escândalo e sob fortes protestos na França de Sarkozy.
Cerca de 80% dos ciganos que vivem na Europa estão desempregados. Os jovens raramente conseguem completar seus estudos, muitos adultos são analfabetos e o grupo étnico como um todo está totalmente excluído da vida económica e social dos países onde vivem. Os ciganos são tão discriminados que, se fala de racismo e “anticiganismo estrutural” como causas mais importantes do isolamento e da exclusão social de que são vítimas.
De facto nós, pessoas de bem, educados, civilizados, maioritariamente bem inseridos económica e socialmente, que trabalhamos imenso, boas casas, bons empregos, limpinhos e perfumados, temos muita dificuldade em tolerar tudo o que é diferente. Sempre tivemos! Elegemos sempre alguém para fazer o papel de “Feios, porcos e maus”
Não aceitando o que não nos é totalmente assimilável, não compreendendo o que não se enquadra nos nossos padrões, discriminamos naturalmente pela negativa, projectando nesse “espaço vazio” todos os nossos fantasmas, frustrações, angústias, medos e ira.
Quando era pequeno lembro-me de me dizerem “Ou portas-te bem ou vais com os ciganos “ ou “ não te aproximes dos ciganos…que eles são maus” Fomos naturalmente formatados para discriminar ciganos!
Os xenófobos não são só o Sr Sarkozy, são também todos os Presidentes de Câmara que ordenaram a criação de guetos habitacionais para ciganos ou os que criaram parques nómadas para ciganos longe de tudo e de todos. São igualmente xenófolos todos os pais que recusam que os seus filhos tenham aulas conjuntamente com crianças ciganas. São também xenófolas todas as escolas que fazem turmas especiais só para ciganos e todos os que recusam alugar casa a ciganos ou ter ciganos como vizinhos.
Nós, o povo das ciganices, que não perdemos uma oportunidade de passar a perna ao próximo, que não fugimos mais ao fisco só se não pudermos, que enganamos na primeira oportunidade a Segurança Social, que acumulamos subsidio de desemprego com uns biscates, nós os reis das falsas baixas médicas, dos casos das facturas falsas, dos submarinos, do freeport, das mais diversificadas vigarices, etc, etc, etc… somos simultaneamente implacáveis com um povo que comete naturalmente as suas aldrabices, mas que tem muito a aprender, nesse particular connosco e que ao pé, por exemplo, da nossa classe politica não passam de meros aprendizes!
Afinal quem são os maiores traficantes de Portugal? E os maiores corruptos? Quantos ciganos foram presos por corrupção em Portugal e por fuga ao fisco? Quantos ciganos estão ligados às falcatruas nas Câmaras Municipais? E no crime organizado? São os ciganos os que mais assaltos preconizam? E crimes de sangue? Qual é a taxa de ciganos homicidas?
E em França?
No fundo todos temos dentro de nós um pequeno Sarkozyzinho!!! É pena não termos também a mulher dele na cama. No fundo era fixe passar a perna a esse sacana!!

2 comentários:

CABINENSE disse...

Muito bom!
Parabéns!
Espero que continues com essa visão crítica da sociedade.

mj disse...

só porque hoje é sábado...
faço um elogio a todos aqueles gajos que desconfiam de dentistas brasileiros, que desviam o trajecto ao ver um grupo de gajos na sua direcção, que quando vêem um gajo bonito pensam que ao menos sou mais inteligente que ele, que quando vÊm uma mulher num carro tão à espera que ela provoque um acidente ou que demore 46 manobras para estacionar, que quando vêem uma criança num restaurante têm medo, muito medo que o raio da canalha desate num berreiro descomunal que envenene o belo do pato com molho de frutos silvestres, que quando chegam a um café com mais de 3 mesas cuja a média de idades é de 50 anos fogem, que quando vêem políticos a falar não os ouvem, que quando vêem comunistas, não os ouvem, que quando vêem nazis vomitam à frente deles, quando perante uma deficiência física ou psiquiátrica desviam o olhar, quando acham que um rebocador is out of their league, que quando um colega teve uma promoção é porque é um lambe-botas do caraças, que quando conhecem pessoas endinheiradas se servem delas para as crucificar, que sentem inveja dos gajos que se encontram na função pública, que nunca esperam que uma mulher saiba utilizar um computador...
porque assim não me sinto tão sózinha com as minhas merdas.

um grande abraço e o que nos trama é mesmo não ter uma carla ou carlo bruni a aquecer os pés. keep writing.
* comentário descaradamente inspirado num post de http://www.nunomirandaribeiro.com/ cujo o link não encontro ao fim de 30 minutos gorados.