quinta-feira, 9 de maio de 2013

Há sempre coisas por detrás das coisas

Vivo num país que tem cerca de 1860 km de costa marítima e acesso como poucos aos recursos riquíssimos do mar. Vivo num país que tem em média 250 dias de sol por ano e condições únicas para uma oferta turística de excelência. Apesar de sermos geograficamente pequenos, temos uma das mais diversificadas e reconhecidas gastronomias do mundo. Vivo num pais que produz vinhos únicos.

Vivo num país que tem recursos geológicos, hídricos, biológicos e climáticos como poucos. Vivo num país que tem gente capaz, que quando emigra para países desenvolvidos se destaca dos demais pela sua capacidade de trabalho, adaptação e criatividade. Vivo num país de empreendedores, gente que deu o mundo a conhecer, gente que correu mundo à procura de melhores condições de vida. Vivo num país de gente pacifica, que conseguiu, apesar da instabilidade política e das dificuldades económicas decorrentes, consolidar uma democracia e viver em paz social. Vivo num país de gente jovem qualificada que dá cartas por esse mundo fora em universidades e empresas de ponta. Vivo num país tolerante, de brandos costumes. Vivo num país que recebeu diariamente durante quase 30 anos milhões de euros para se modernizar e ultrapassar assimetrias internas e face aos seus congéneres europeus. Vivo num país que teve fundos para se reformar e condições para que desenvolver e criar riqueza.

Mas também vivo num país que, após quase 30 anos de União Europeia (UE), milhões de fundos comunitários e uma década dentro do euro, uma das moedas mais poderosas do mundo, não foi capaz de fugir à cauda da europa. Vivo também num país que, apesar dos milhões em fundos comunitários, dois terços da população vive em regiões consideradas zonas pobres na Europa. Vivo num país que apostou no betão e no ferro em detrimento da educação. Vivo num país que construiu a maior redes de auto-estradas do mundo para “encurtar” o país e aumentar a competitividade das empresas. Vivo num país onde hoje as portagens cobradas empuram empresas para a falência todos os dias.

Vivo num país onde governantes negociam parcerias público-privadas (PPP´s) e poucos meses depois aparecem, como que por magia, nos conselhos de administração das empresas privadas com quem antes negociaram e concessionaram auto-estradas, pontes, barragens, hidroeléctricas, hospitais etc…Vivo num país que através de engenhosos contratos em forma de PPP´s o estado paga milhões aos grupos Melo´s, Espíritos santos’ e outros amigos de Portugal. Vivo num país que tem a carga fiscal, os preços da electricidade, combustíveis, telecomunicações, portagens mais caros da Europa. Vivo num país onde deputados da república trabalham simultaneamente em grupos privados sem que isso fira incompatibilidades. Vive num país onde o chefe das secretas pode vender informação classificada e transitar para a empresa a quem supostamente vendeu essa informação.

Vivo num país onde é possível interpor 44 recursos, pagar 144 mil euros em custas judiciais ao estado e evitar a prisão. Vive num país onde todos os conselhos directivos de organismos públicos mudam a cada ciclo político, ao ritmo da necessidade de emprego de cada nova levada de boys. Vivo num país onde a justiça não funciona. Vivo num país onde políticos criam universidades para licenciaturas tipo “tang”. Vivo num pais que acolhe criminosos nos seus governos. Vivo num pais onde governantes sem vergonha teimam em não se demitir. Vivo num país que tem uma autêntica indústria de licenciamentosonde um projecto de aquacultura, entre outros exemplos, demora em média 10 anos a ser licenciado. Vivo num pais que importa em contrapartida, entre outros exemplos, 70 mil toneladas por ano de pescado criado em regime de aquacultura. Vivo num pais pobre onde administradores públicos e políticos auferem remunerações e reformas douradas prematuras, entre outras regalias, muito acima dos mais ricos países europeus. Vive num país que foi capaz de criar ricos mas não riqueza.

Vivo num país que já esteve na cauda da europa a 12 membros, a 15, a 17 e prepara-se agora, para ficar também no fim da União Europeia a 27 membros. Vivo num país surreal, onde parece sempre haver coisas por detrás das coisas!

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