“Declaro por minha honra preservar, promover e divulgar o ritual da
irmandade do tonéis, reconhecendo o papel dos tonéis na valorização do vinho e
da gastronomia que lhe está associada;
Prometo valorizar os sabores e aromas
dos néctares degustados, não mais me comportando como um "envinagrado dum
cabrão", nem mesmo como "curioso de tinto". “
O
Tonel 69
Poderíamos começar este texto pelo
caminho mais fácil! Com uns trocadilhos baratos e estéreis aproveitando a
infeliz sequência numérica deste nosso tonél! Escreveríamos aqui umas graçolas de
meia tigela sobre umas posições acrobáticas que obedecem a uma determinada
simetria ou talvez até poderíamos invocar aqui o Kamasutra, essa bíblia do
deleite. Mas o assunto aqui é vinho. E para mais, esta linguagem do sexo seria
estranha para a maioria dos membros desta impoluta irmandade. Gente de postura séria
e hirta! Para alguns desta ingénua gente, o Kamasutra seria facilmente
confundido com o nome de um qualquer novo avançado do Sporting!
Poderíamos até, caso fugíssemos às
nossas responsabilidades, e agindo preventivamente, ter saltado directamente do
68º para o 70º Tonél evitando assim conotações abusivas ou o devasso gratuito.
Mas não! Jamais no desviaremos um milímetro que seja da nossa missão!
Desta forma importa com lisura e
elevação passar ao largo da devassidão, figas canhoto, que até estou a suar, e falar do que
verdadeiramente importa – De sexo! Perdão, de vinho!
A
cerimónia
Ficará este tonel 69, realizado aos
vinte e três dias do mês de Janeiro do ano da graça de nosso senhor de 2015,
marcado nos anais desta imponente irmandade pela cerimónia de entronização dos novos irmãos Nelson, João Lopes e
Victor Cancela, que vêem assim o seu actual e pobre estatuto de “curiosos
do vinho e envinagrados dum cabrão” acender ao honroso título de ”Irmãos”.
O excerto do juramento acima
transcrito, lido a viva e trémula voz, carimbou em definitiva tamanha pretensão
e serve como prova da enorme bondade e condescendência da nossa digníssima
congregação. Um marco. Uma responsabilidade.
Parabéns!
Ataque
de boca
E enquanto os oito vinhos do Dão
arejavam, região em prova no presente jantar, iniciamos o aquecimento vínico/gastronómico
com a prova de três espumantes – Messias branco bruto 2012, Penicas rosé bruto 2013
e Terras do Demo bruto 2011, que embalaram com coragem e brilho o carácter fortemente
condimentado das sardinhas e enchovas de conserva e dos queijos de cabra da
região de Castelo Branco.
O rigor gastronómico do Irmão Nelson e
de sua excelência o nosso Grão-Mestre e Chef reputado Fernando Marques, ficou definitivamente
vincado com a apresentação das entradas – Umas vieiras gratinadas no forno com
ovo, queijo e pão torrado, acompanhadas por dois Vinhos Verdes varietais – o
vibrante e consensual Soalheiro Alvarinho 2011 e um controverso Avesso 2005, já
com marcadas notas de evolução, de que já nem do nome nos lembramos.
O repasto principal foi confeccionado
a partir de sete Sargos pescados à linha nas águas de Baiona, nos beiços da co…
actchimmmm, perdão, da costa Galega, pela
cana do nosso novo irmão João Lopes. Assados no forno com batatinhas e servidos
em cama de espinafres com mel, ganharam o estatuto de iguaria, ombreando de
modo franco com os oito elegantes mas poderosos vinhos do Dão, desfazendo assim
esse mito urbano – que não se deve acompanhar peixe com vinho tinto. Ai está a
prova provada que bons vinhos acompanham bons peixes! Já os maus não acompanham
coisa nenhuma!
Notas
de Prova
Respondendo ao repto
lançado no último Tonél, de que o vinho apresentado a prova carece de sumária apresentação,
na qual o proponente fundamenta a sua sugestão, os irmãos não se fizeram
rogados e apresentaram-se na prova exemplarmente documentados. Era vê-los munidos
de pastas de apontamentos e argumentos afinados na ponta da língua, mostrando trabalho
de casa bem feito. Se a irmandade fosse financiada pelo Estado, no próximo
Tonel alguns levariam assessores!
Em prova, por ordem de
classificação, apresentaram-se os seguintes vinhos: Corga Touriga Nacional 2011
e Quinta da Fata Reserva 2011 (1º lugar ex aequo, 75 pontos), Chão da Quinta
2011 (3º lugar, 73 pontos), Quinta dos Carvalhais 2010 (4º lugar, 72 pontos),
Quinta da Vegia 2010 (5º lugar, 64 pontos, Fuga - Casa da Passarela 2011 e
Ribeiro Santo Reserva 2011 (6º lugar ex aequo, 62 pontos e a distinção vinagre
para o aristocrático Quintas de Saes, 2011, Estágio Prolongado (58 pontos).
Este último terá sido a desilusão da noite!
Fim de boca (dissertações)
A irmandade não prova
vinhos só porque sim, fá-lo com um intuito bem claro. Se em primeira instancia
o objectivo é avaliar 8 vinhos em cada prova, num momento subsequente pretende
esta congregação elaborar pensamento crítico sobre os perfis, caminhos e
tendências do Vinho. O crescente fenómeno da adocicação, perfumação e sobretudo
de madeirização dos vinhos não nos tem passado ao lado. Neste Tonel, dois
vinhos revelaram-se, na nossa opinião, bons representantes dessas tendências, a
saber - O vinho Quinta de Saes (vinagre,
58 pontos) que apresentava carácter
fortemente perfumado, escondendo aromas mais vinhosos
ou vegetais e o Chão da Quinta (3º lugar, 73 pontos), que revelava sobretudo
notas florais, doces e pronunciadas notas de barrica. Na prova, se a irmandade
foi severa com o primeiro, já relativamente ao segundo foi bastante contemplativa,
atribuindo-lhe o honroso 3º lugar. Afinal, talvez os produtores tenham razão –
É de madeira e de notas doces que elas e eles gostam mais!
E
por falar em doces, no cair do pano, serviu-se um irrepreensível arroz doce à
moda de Coimbra, acompanhado por um poderoso Croft Porto Vintage 2012. Nunca
Pior!
Agradeça-se a
hospitalidade do irmão Nelson.
Irmandade dos Tonéis
Fundada em 2000, por vinhos de
um cabrão
1 comentário:
Amigo Alberto
Eu leio estas merdas e fico logo a salivar...
Quando é que tenho direito a um convite para uma destas degustações?
Abracinho
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