quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Do velho escorpião ao inevitável regresso ao estado regulador

Um certo dia um escorpião, fugindo da floresta em chamas, chegou à beira de um rio e avistando uma tartaruga implorou-lhe desesperado:
– Tartaruga, tu me transportarias sobre a tua carapaça para a outra margem?
- Escorpião, isso não me custaria nada, mas como posso eu ter a certeza que não me irás matar com o teu veneno? Todos sabem como picas quem quer que se coloque ao alcance do teu ferrão.
- Ora, mas como poderia eu fazer isso? Se te picar, e vires a morrer, eu afundo-me e também morrerei afogado.
A tarturuga achou que o argumento fazia sentido e, seduzida, acedeu às pretensões do escorpião. Ainda a viagem não ai a meio quando a tartaruga sentiu o mortal ferrão espetar-se no seu pescoço. Incrédula, disse como a voz a fraquejar:
-Escorpião! Porque fizeste isso?
- Desculpa tartaruga, disse o escorpião, mas não consigo fugir ao meu destino. É da minha natureza!!
Nesta altura do texto já todos perceberam quem é o novo escorpião e quem é a velha tartaruga!
O Dr. Passos Coelho não conseguiu fugir ao seu destino e à sua natureza por muito tempo. Depois da sedução, das promessas de ataque aos jobs for the boys, aos lugares de confiança politica e aos vencimentos pornográficos, eis que, em pouco mais de dois meses, tudo começa a cheirar a “dejá vu”. Cumprindo o destino - tudo mudar para que fique tudo exactamente na mesma – carregou sobre os mesmo, poupando os habituais. Foi assim nos últimos trinta e tal anos!
Depois de um começo populista - viagens em classe económica, férias no meio do povo e o apelo ao não uso de gravata no ministério da agricultura - vimos agora que este novo escorpião é fiel ao ADN dos seus antecessores.
Nomeações em série por confiança politica, pois está claro, onze (!) só para a CGD,a benolência com a banca e todo o sector financeiro, aumentos brutais do preço dos transportes públicos, facilitação dos despedimentos (redução do valor da indemizações), aumento dos impostos sobre o trabalho e sobre bens essenciais, mas não sobre o capital, os juros e dividendos, privatizações ao desbarato, etc, etc… Tudo a pagar por quem trabalha e em benefício do grande capital. E porquê?
Pedro Passos Coelho parece um homem sensato e de boa fé, mas padece de dois males incuráveis: Em primeiro lugar é um jotinha e como tal deve muitos favores aos barões do aparelho social-democrata. Em segundo lugar, é ideologicamente um liberal, acreditando no sector privado e nos mercados como motores e autoreguladores do sistema economico ou financeiro.
Quanto ao primeiro mal, nada a crescentar – terá naturalmente de fazer concepções ao aparelho e seus barões, mais umas quantas ao do CDS, arranjando algumas centemas de colocações, devidamente remureradas, para outros tantos boys. Nada de novo portanto!
Quanto ao segundo mal…a coisa merece algumas considerações.
Nos últimos anos muitos governantes um pouco por todo o mundo acreditaram que deveriam ceder aos mercados toda a iniciativa economica ou financeira, alienando inclusivé sectores estratégicos para a suas economias. Mais, demitiram, em muitos casos, o estado do seu papel regulador, deixando os mercados funcionar livremente. Muitos acreditaram na capacidade de autoregulação dos mercados, e na sua capacidade de produzir riqueza e prosperidade para todos. Em parte estavam certos! De facto nunca como nos nos últimos 10/20 anos se produziu tanta riqueza e prosperidade. Mas, e há sempre um mas, essa riqueza e prosperidade está a ficar nas mãos de muito poucos. Nunca como agora houve tantos multimilionários e simultaneamente tantos pobres. Novos pobres, sendo que alguns acumulam já uma dupla condição – pobres e escravos. Mais, os próprios estados ficaram reféns dos mercados, como se pode agora verificar pela instabilidade monetária na velha e sabida europa.
Por exemplo em Portugal, nasceu da iniciativa privada o BPN, que durante anos, com uma gestão gananciosa e fraudulenta gerou milhões de lucro para os seus accionistas. Em algum momento foi sugerida a distribuição dos seus lucros pelos contribuintes? Claro que não, afinal tratava-se de um negócio de iniciativa privada. Então, deixem-me que pergunte - porque é que teremos de ser nós contribuintes a pagar os prejuizos de um banco privado? O BPN foi agora vendido a um outro grupo privado. Todo o património mobiliário e imobiliário, incluindo todos os balcões, rendeu, pasmem-se, 40 milhões! Nós pagamos o resto. Até agora 2,4 mil milhões de euros! É o mercado!
Este mercado livre, sem supervisão ou intervenção do estado em que Pedro Passos Coelho acredita é o mesmo mercado que ataca agora a moeda única europeia, o mesmo que ataca nações, o mesmo que põe em risco autonomias nacionais e que coloca as famílias europeias a passar fome.
É esse mesmo mercado que nos impõe que vendamos o país ao desbarato, parte da CGD, as àguas de Portugal, a TAP, a EDP e a Galp. Pedro passos Coelho ficará na história como o político que entregou definitivamente o ouro ao bandido, leia-se - grande capital. Não é contudo o principal reponsável, entenda-se. Nada de bom virá por aí.
O que devemos pensar e sentir quando ficamos a saber que o patrão do grupo Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, tem uma fortuna avaliada em 1917,4 milhões de euros pela revista Exame, figurando entre as três pessoas mais ricas de Portugal e, na semana seguinte, lermos num outro jornal que 1100 dos seus colaboradores em situações de necessidade extrema, vão ser apoiados pelo grupo nas despesas relacionadas com a alimentação da família - através de cheques ou senhas? Que distribuição de riqueza será esta? Em vez de salários justos os grandes grupos económicos dão esmolas aos seus funcionários?
O economista turco de origem judaica e naturalizado norte-americano, Nouriel Roubini, o tal que previu esta crise no início deste século, lembra agora que Karl Marx estava certo, quando acreditava que, o capitalismo pode auto-destruir-se, porque não se pode continuar a transferir rendimentos dos salários para os lucros sem ter menor capacidade de trabalho e uma menor procura".Isto quer dizer simplesmente isto – Se o capitalismo continuar a tirar a quem trabalha para acumular grandes fortunas, os pobres deixam de comprar e a procura de produtos decresce provocando uma hecatombe sobre a economia mundial, colocando os sistemas financeiros em insolvência. Mas os mercados, gananciosos e imorais, continuarão, com a complacência dos estados, a espremer a teta à vaca, e só vão parar quando ela secar!
Recentemente, o multimilionário norte-americano Warren Buffett escreveu um artigo de opinião no "New York Times", em que enviou um recado a Barack Obama. Buffett. Entende Buffett que a partilha de sacrifícios pedidos à população é injusta para as classes mais pobres e acrescenta: "Parem de mimar os super-ricos". Para revelar que a austeridade o tem mimado, escreve: " Verifiquei junto dos meus amigos milionários para saber que sacrifícios lhes foram pedidos, mas também eles ficaram intactos. No último ano, a minha conta fiscal foi de 6 938 744 dólares, apenas 17,4% dos meus rendimentos tributáveis, o que é uma percentagem menor do que a que foi paga pelos meus funcionários”
Aquilo que aconteceu nos últimos dias em Londres foi obra de delinquentes sim. Mas de delinquentes filhos de famílias desenraizadas, excluídas. Jovens que perderam o lugar neste vertiginoso comboio capitalista, sem emprego, sem valores e sem esperança no futuro. Um dia a bomba explode por cá também.
Pedro Passos Coelho parece não ter ainda percebido a história e o seu rumo e ainda há dias, na festa do Pontal, pedia concertação social para evitar a revolta das pessoas e a conflitualidade nas ruas. Pois bem Sr. Passos Coelho, a conflitualidade e a revolta evitam-se com justiça social. As pessoas precisam de saber que os sacrifícios que lhes pedem têm um objectivo claro e que todos, incluindo a banca e outros privilegiados, estão no mesmo barco e partilham também do esforço. De outra forma o povo, mais tarde ou mais cedo, vai sair à rua. E com razão!
Por isso, faço-nos um favor – se quer de facto ficar na história, como confessou há dias, distribua os sacrifícios por todos e pare de mimar os ricos. Ponha os rendimentos do capital, os juros e dividendos, a pagar impostos. E já agora, pare com esta desarvegonhada protecção à banca e aos seus accionistas multimiliionários.
E, voltando à fábula do escorpião – Não se esqueça Sr. Passos Coelho que o escorpião também se afundou com a tartaruga!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Prova de Vinhos na Loja do Sr. Falcão







Imagine meu caro amigo ou amiga que se interessa por vinhos há alguns anos, que é frequentador habitual de eventos do vinho e que não falta a uma edição que seja da glamorosa Essência do Vinho no Porto ou do Encontro do Vinho na Junqueira. Imagine que é daqueles que lê a crítica vínica/gastronómica e que, inclusive, é assinante de revistas da especialidade. Imagine que conhece o panorama vínico português de alto a baixo e que manda ainda umas larachas sobre alguns vinhos do mundo, tipo ouviu falar de uns châteaux, de uns vinhos da Borgonha, de Bordéus e outras “paneirices” do género. Imagine caro amigo que tem lá em casa umas quantas boas garrafas e que já bebeu, em casa de uns amigos, é certo, uns vinhos de grande categoria - ícones tipo Barca velha, Pêra Manca, uns Neipoort e uns “Portos Vintage” de anos clássicos. Imagine que é daqueles que percorre e analisa minuciosamente as cartas de vinhos dos restaurantes e que até conhece e bebeu muitos dos vinhos nela inscritos. Imagine caro amigo que é daqueles que passa os jantares a falar de vinhos e das suas ligações gastronómicas e que só pára quando se lhe “entremela” a língua. Pronto imagine que se acha um guru da coisa!
Imagina agora estimado amigo ou amiga que um gajo do tipo provocador tinha o desplante de o convidar para uma prova de vinhos da região de Penela e Podentes, mais uns vinhos manhosos de uma tal vinha dos penicos ou das Penicas ou lá o que isso for…
Naturalmente o meu amigo sentia-se incomodado, injuriado, confuso e até ultrajado! E com razão! Mas naturalmente tinha que dar uma resposta. Dava sem pestanejar um rotundo não, argumentando que não estava para estragar a boca. Inventava um afazer de última da hora para não ir. Ou, pelo contrário, dizia que sim, só para não fazer desfeita, engolindo preconceitos, fingindo uma certa abertura de espírito... e ia. E ia muito bem!
A prova cega organizada a partir de um desafio que me foi lançado pelo enólogo Alexadre Carril, decorreu na Loja do Sr. Falcão e contou com a participação de outros quatro ilustres provadores, a saber: Zé Mário, Meno, Victor Cancela e Luís. Todos experimentados provadores!
Dividimos a prova em três fases. Primeiro provaram-se dois espumantes, um tinto e um branco, de seguida quatro brancos maduros e por fim sete tintos. Treze vinhos em prova. Sete dos quais produzidos pelo enólogo Alexandre Carril na sub-região da Serra do Sicó e os restantes cinco por mim próprio na tal Vinha das Penicas, localizada na franja sul da região da Bairrada!
Relativamente aos espumantes, o tinto revelou aroma agradável, cheio na boca, com acidez vibrante, característica da casta baga, mas de bolha fugaz e escassa. O espumante branco – Vinha das Penicas bruto 2009, mostrou aromas intensos de fruta branca cozida, excelente acidez, com final longo e bolha crocante a desfazer-se na boca. Recolheu a unanimidade das preferências dos provadores.
Nos brancos, salientou-se um vinho quase incolor feito maioritariamente da casta Fernão Pires (Maria Gomes), de aroma frutado intenso e acidez a condizer. Um vinho sem pretensões, mas muito bem feito, ideal para beber numa final de tarde junto à piscina. O vencedor da noite foi o vinho Encosta da Criveira 2010. Mineral, com acidez vibrante e equilibrado. Perfeito para acompanhar peixes gordos. Um outro vinho apresentado pelo enólogo Alexandre Carril deu boa conta de si, sendo, no entanto, prejudicado por se apresentar pouco fresco, o que prejudicou a percepção da acidez. Provado no dia seguinte, com a temperatura a condizer, mostrou-se fantástico. O quarto vinho, Vinha das Penicas branco 2010, engarrafado na véspera, estava imbebível, pois dominavam ainda os aromas a sulfuroso aplicado no engarrafamento. A prova dos brancos foi notável atendendo às dificuldades técnicas para vinificar brancos de qualidade.
Quanto aos tintos a prova foi de elevado nível, destacando-se três vinhos. O vinho classificado em terceiro lugar, um vinho da zona de Penela, bem feito, muito equilibrado, delgado na cor mas de aroma correcto, destacando-se pelo equilíbrio do conjunto. O vinho Encosta da Criveira - reserva 2009, feito pelo enólogo para um cliente também de Penela mostrou-se poderoso, com boa estrutura e aroma, mas ainda um pouco áspero na boca a mostrar ainda imcompleta integração da madeira. Um vinho muito interessante a necessitar de tempo de garrafa. A revisitar.
O vencedor da noite, repetindo anteriores destaques, foi o Vinha das Penicas 2009. Apresentou-se bonito na cor, aroma evoluído com notas de couro, alcatrão e bergamota, boa estrutura, elegante, um conjunto equilibrado e bem arrumado com acidez firme que lhe confere final fresco. Pena que me restem apenas sete garrafas.
Em conclusão registe-se três ou quatro aspectos.
A amabilidade do Enólogo Alexandre Carril, o sempre excelente acolhimento do pessoal da loja do Sr. Falcão e o lote dos vinhos apresentado que surpreenderam pela qualidade manifestada. Há 4/5 atrás seria impensável encontrar vinhos com esta qualidade feitos nesta região. De facto existem já uma boa dúzia de pequenos produtores que rompendo com a ancestral e por vezes displicente forma de fazer vinhos nesta região apostam agora em consultadoria enológica, melhores materiais e moderna tecnologia na adega. Os resultados aí estão – vinho sem defeitos, de bom nível qualitativo, sendo que alguns nada devem a muitos vinhos por ai andam. Registe-se, para finalizar, que durante a prova os clientes da taberna puderam provar todos os vinhos em prova, o que criou uma excelente dinâmica e até acesa discussão. Para Outubro há novos vinhos em prova e alguns serão reapresentados numa fase de vida mais evoluída. Até lá boas provas!

terça-feira, 14 de junho de 2011

O risco de não correr risco nenhum








Ela andava prenha! Já com dificuldades em andar arrastava-se penosamente, com aquele olhar tranquilo de quem não espera muito da vida, apenas viver o que tiver de ser. Era a sua primeira gravidez. Nós andávamos frenéticos e com a cabeça cheia de planos. Esperávamos ansiosamente a hora feliz. E a hora chegou no dia 30 de Abril a meio da tarde. Pariu cinco lindos gatinhos.
Antes disso, já havíamos preparado a cama – uma caixa de papelão cuidadosamente escolhida, abrigada do frio, do vento, e do sol, forrada de fofos tecidos coloridos. Para além de confortável era linda. - Já dormi pior, pensei. Ela fez-nos a vontade e pariu precisamente nessa caixa. Dormimos tranquilos!
No dia seguinte os gatos tinham desaparecido. Incrédulos, o pânico apoderou-se de nós.
Procuramos por todo lado, qual pais inexperientes. Finalmente encontramos os pequenos felinos. Estavam no meio das ervas ao relento, sujos e cheios de carrapetos. Mudamo-los novamente para a confortável caixa. Nem queríamos acreditar como é que alguém preferia um baldio sujo àquele conforto de hotel 5 estrelas. Ela mudou-os uma, outra e um sem números de vezes. Nós repostamos! Ela mudou-os cada vez para locais mais ermos e inacessíveis! Desistimos!
Há poucos dias um rapaz de 11 anos morreu na cidade australiana de Brisbane depois de ter caído do sétimo andar de um prédio quando tentava tirar uma fotografia a fazer equilibrismo na varanda. O jovem pretendia colocar no Facebook a fotografia de um movimento que está a fazer sucesso entre jovens: o “planking”.
Vimos recentemente duas jovens a espancar brutalmente uma terceira, enquanto um quarto jovem filmava provavelmente cheio de adrenalina.
Sabemos também que diariamente chegam às urgências psiquiátricas dezenas de jovens, aparentemente bem inseridos social e familiarmente, a maioria estudantes, muitos universitários, em estados de crise psiquiátrica aguda por se terem entregue voluntariamente a experiências de consumo massivos de álcool, haxixe ou outras drogas de ocasião. Muitos destes episódios ganham a forma de concurso, onde cada adolescente se testa para ver quem aguenta mais, para testar limites, levando a estados limite em que a vida é seriamente posta em causa!
Outros exemplos chegam-nos todos os dias de jovens criados em autenticas redomas, que decidem experimentar de forma pouco convencional e despropositada situação de risco limite: Posse de armas, corridas a alta velocidade , etc...
O que os levará a fazer isso? O que tem isto a ver com os gatos?
Nada! E tudo!
Quisemos fazer com os gatos o que muitas famílias fazem com os filhos – asfixiá-los no conforto, percepcionar e protegê-los de todos os riscos, protegê-los do sol, do vento, do frio, do sofrimento e de tudo o que achamos que pode por em risco o seu conforto. Esquecemo-nos que descendemos do homem da caverna, de índole selvagem, que teve que aprender ombro a ombro com a morte a desenvolver competências para se manter vivo, e que por isso, sempre viveu no risco.
Hoje os nossos filhos vivem em estufas! E sempre que podem, não o podendo fazer faseadamente com os pais, fazem-no de forma abrupta com o seu grupo de pares. É a sua natureza. Nada mais simples!
Manuela Flamming já o tinha referido, invocando Peter Blos, no seu livro Toxicodependência e Família, chamando a atenção para esta nova estirpe de miúdos a quem tudo é oferecido e que são desordenadamente elogiados e admirados, mesmo quando cometem faltas e falhas graves. Estas crianças desenvolvem uma imagem de seres grandiosos, desenvolvendo uma auto-admiração acrítica que se torna numa fonte exclusiva de auto-estima. Vivem na dependência duma apreciação e aprovação irrealista do seu valor e da sua importância porque a sua falsa auto-estima tem de ser mantida à custa do alimento narcísico. A derrocada surge normalmente associada a perturbações de comportamentos ou a comportamentos aditivos e muitas vezes na sequência de pequenos nadas: uma reprovação, uma perda súbita, um fracasso profissional, uma rejeição amorosa, um irmão que obtém mais sucesso…Um profundo vazio, o sentimento de desvalorização de indignidade inunda então o self… e a raiva e o desespero preenchem então a sensação de vazio. São jovens que não travaram as lutas inerentes à realização do ser humano, porque vivendo em estufa, não se confrontaram com os processos dinâmicos inerentes ao crescimento e por isso nunca perderam mas também nunca ganharam. Mas tarde, procuram ansiosamente novos objectos ideais que restaurem a harmonia interna, construída na sua despedaçada grandiosidade infantil. Neste contexto, o encontro e a descoberta dos efeitos poderosos e mágicos do tóxico podem satisfazer de imediato o desequilíbrio e reparar o dano narcísico. Infelizmente o pedido de ajuda surge muito tempo depois!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

a última vassourada




Por brincadeira dizemos lá no meu serviço, quando os resultados alcançados não são os esperados, que continuamos a ser muitos bons, os doentes é que não prestam!
Esta frase voltou a ecoar na minha cabeça ao ler a lista das 100 personalidades mais influentes em Portugal publicada pelo semanário Expresso, na sua edição do dia 30 de Abril. Nós temos de facto pessoas excepcionais em Portugal, os resultados obtidos é que são verdadeiramente ruinosos!
Num primeiro sopro de pensamento irreflectido, poderíamos ser tentados a colocar todos no mesmo saco. Mas não! Muitas das personalidades eleitas pelo Expresso são figuras incontornáveis que se destacaram por mérito próprio em vários sectores da sociedade portuguesa, desde os negócios, passando pelas artes, ensino, investigação e tecnologia, no domínio do pensamento, na moda, no espectáculo, na escrita, acabando no desporto. Pessoas que se destacaram pelo seu espírito inovador, capacidade de trabalho, empreendedorismo, persistência e capacidade de luta. Nada a opor!
Depois há inúmeras figuras da classe política ou das suas clientelas!
Nesta categoria a coisa ganha contornos obscuros não se sabendo verdadeiramente o que é que cada uma destas personalidades tem de relevante e muitos menos o que cada uma deu verdadeiramente ao país. Que saldo resultou da sua passagem pela vida política ou pelos sucessivos cargos públicos que ocuparam? Se foram e são influentes, em que sentido o foram? Pela positiva ou pela negativa? Não sabemos!
Quem nos levou a este estado de mediocridade politica, de ruptura financeira e social? Quantas pessoas foram responsabilizadas, julgadas ou condenadas?
O que vamos dizer aos nossos filhos quando eles nos perguntarem pelos responsáveis pela falência do país e hipoteca do futuro das gerações vindouras?
O que diremos aos nossos filhos quando nos perguntarem como foi possível que um rombo superior a 2 mil milhões de euros no BPN seja pago mansamente pelos contribuintes, sem que o povo se revolte, perante a completa ineficácia da justiça e a obscena impunidade dos criminosos responsáveis por tais actos? Onde vive Dias Loureiro? Quem o protege?
Como é possível tamanha fraude nas barbas do Banco de Portugal. O que aconteceu ao seu presidente por ter falhado a sua missão de supervisão? Foi responsabilizado? Demitido? Não, foi promovido e indicado para um cargo no Banco Central Europeu!
Como explicar aos nossos filhos que vivemos num país em que um gestor de empresas com participação do estado como a PT, EDP ou Galp, ganhe num só ano, em ordenados e prémios de gestão, o equivalente ao que um trabalhador comum apenas ganharia se trabalhasse 100 anos consecutivos?
Como explicar que gestores públicos ganhem prémios de produtividade em empresas que dão prejuízo, saltitando de empresa em empresa sem qualquer tipo de responsabilização?
Como explicar que empresas com participação do Estado paguem aos seus gestores prémios por resultados alcançados em áreas em que são monopolistas? Quantas pessoas conhecem que comprem electricidade a outra empresa que não a EDP?
Analisemos por exemplo o papel de Aníbal Cavaco Silva, um homem que apesar de continuar a insistir que não é político profissional - sim, porque a sua principal actividade deve ter sido plantar ervas aromáticas, mas que foi 10 anos primeiro-ministro, oito dos quais com duas maiorias absolutas, num período crucial para a estruturação de Portugal com os fundos comunitários. Afinal que influência teve verdadeiramente no país o homem que mais tempo leva de governação desde o 25 de Abril?O que pensar de um homem que sendo sério, nunca foi um visionário, nunca mostrou para além do betão e do cimento, um projecto verdadeiramente reformador ou uma ideia de desenvolvimento sólida para o país, marcando até a sua governação por actos de pura tacanhice e medíocre dimensão humana e intelectual, como demonstrou, já como Presidente da República, ao ter faltado ao funeral do Nobel José Saramago, confundindo uma antipatia pessoal (admissível) com o exercício de um cargo político – indesculpável. O que nos deu este homem? E o que nos tirou verdadeiramente? Quem autorizou que se aceitasse dinheiro da Comunidade Europeia para desmantelar um boa frota pesqueira e um já pobre sector agrícola? Para quem foi o dinheiro dos fundos estruturais?
E Durão Barroso? O que nos deu verdadeiramente esse mestre do jogo de cintura, ilustrado por um percurso politico cheio de deambulações e golpes de rins, desde os tempos de militância no MRPP até à inacreditável fuga na primeira oportunidade para a Comissão Europeia, onde hoje está confortavelmente instalado, deixando o pais entregue na altura a um rapaz chamado Santana Lopes. Que influência teve Durão Barroso na nossa vida?
E Guterres? Esse homem conhecido por ser “um homem bom”, mas sem mão no ávido aparelho socialista, que gastou o que tinha e fundamentalmente o que não tinha! O que deu ele a Portugal?
E o que dizer de figuras como Soares, Alegre ou Almeida Santos, que cedo se deixaram encantar pelas mordomias do estado, fazendo deste o seu habitat natural?
E esta manada de gestores públicos com cartão partidário que saltita de empresa pública em empresa pública acumulando influências, ordenados obscenos e reformas douradas? O que é que Portugal lhes deve? E a esta nova geração de deputados filhos de ex-deputados que invade as bancadas parlamentais? Qual a sua profissão? Em que área se destacaram?
E os banqueiros, tão acarinhados pelo poder politico, o que deram à economia portuguesa?
E que fez esse gestor de elite, que dá pelo nome de Rui Pedro Soares, que no seu curriculum pouco mais tem que a circunstancia de ser amigo pessoal de Sócrates, para merecer os 5 milhões de euros em ordenados que ganhou desde 2005 na PT. Quanto deve esse senhor ao país? E quem permite estas atrocidades?
O que deve Portugal a Armando Vara? E a Sócrates, esse puro ilusionista?
Uma conclusão parece óbvia - Portugal tem imensa massa crítica e é até exportador de profissionais de altíssimo nível para o mundo. Porque não chega então esta elite aos centros de decisão política? Qual o verdadeiro papel dos partido políticos e dos seus aparelhos na sociedade portuguesa?

Neste cenário, em quem devemos votar nas próximas eleições?
Ou será como diz o bastonário da ordem dos advogados: “O que separa PS, PSD ou CDS consubstanciasse apenas no facto de não caberem todos à mesma mesa”.
Triste sina a nossa! Até quando?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O último a sair que apague a luz…



Um dia no Estabelecimento Prisional, onde me desloco semanalmente para realizar sessões de grupo, um recluso disse-me com um ar absolutamente convicto – "Sabe, a corrupção é que faz andar Portugal. Sem corrupção isto não evolui. É verdade! Acredite!"
Momentaneamente fiquei inquieto e pensei - mas como é possível alguém pensar um absurdo destes! Mas, mais tarde, dei comigo a remoer naquela frase.
E conclui, ele tinha toda a razão.
Ora pensem. Imaginem que Portugal era um desses países civilizados e chatos do Norte da Europa, onde existem apertadas leis anti-corrupção, os titulares de cargos públicos são responsabilizados e punidos sempre que se desperdiçam dinheiros públicos e sobretudo, imaginem que existia uma coisa chamada consciência cívica. Ora, em primeiro lugar, tal como nesses países chatos e deprimentes, a taxa de suicídios disparava fazendo deste alegre país um enorme corrupio de velórios e funerais. Só em dias de nojo, bem aproveitados para fazer umas "pontes", seria um prejuízo monumental!
Em segundo lugar acabava-se com o desporto mais corrupto do país, a seguir ao futebol " passar a perna ao vizinho". Má ideia!
Imaginem agora este país sem Governos Civis. Essas altas escolas de potenciais candidatos a tudo o que seja lugar público. Um gajo queria tirar uma licença para lançar uns foguetes quando o Benfica é campeão, ou pedir uma autorização para realizar uma manifestação anti-corrupção e iria onde? Como é que era? Imaginem também este país sem a Sociedade Metro Mondego. Quem compraria todos aqueles BMW topos de gama para os administradores? Quem durante 14 anos consumiria todos aqueles almoços e jantares em restaurantes de luxo e bebia garrafas de tinto topo de gama à custa do orçamento? A economia reflectia-se imediatamente, como é óbvio! E o FMI está atento. Qualquer distracção e eles vêm cá com a ideia de acabar com a corrupção. Não! Não podemos facilitar. A corrupção é uma conquista de Abril!
Agora imaginem este pais sem o Gang dos Robalos? E o Paulo Portas? Pronto! Não imaginem. Seria doloroso de mais, agora com esta "estória" do saca-rolhas.
Mas tentem imaginar este país sem o projecto Portucale, com todos aqueles sobreiros ainda de pé, cheios de cortiça, a poluir o ambiente e impedir o progresso de Portugal!
Imaginem este pais sem partidos políticos fortes, financiados por empresários com malas cheias de dinheiro em troca de facilidades e acelerações de processos. E quem é capaz de imaginar este país sem os preciosos blindados, adquiridos sem concurso público, para que chegassem a tempo da Cimeira da Nato, realizada em Lisboa. Seria o fim! É que aqueles blindados serão fundamentais num futuro muito próximo para combater os pobres na rua!
E se algum iluminado tivesse a ideia peregrina de meter a Justiça a funcionar? Meu Deus! Seriamos privados do contributo desta cintilante classe política, que tanto tem dado ao país.
E sem as derrapagens das obras públicas? Da Casa da Música, da Ponte Rainha Santa Isabel, da A1, da A2, da A3... da A25?
Agora parece que criaram vinte e tal cargos de vice directores para o Instituto da Segurança Social. Bem! Esta medida é essencial e só peca por tardia. Esta gente vai comprar carros topos de gama, quintas, casas, barcos, beber bons vinhos, enfim dinamizar a economia.
O problema não é esse. O problema é que nos faltam mais programas tipo a Casa dos Segredos, Portugal no Coração e as Tardes da Júlia para entreter os pobres. Esses não fazem falta nenhuma e só dão prejuizo ao país!
Combatasse então a pobreza nas ruas com os blindados!

E o último a sair que apague a luz e bata a porta…