sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Uma wii com o kamasutra integrado


Tenho postado na maioria das vezes, a partir de uma visão crítica e demasiado descrente do que me rodeia. Nunca da vida! Essa é um bem essencial. Impagável, da qual tiro um gozo quase absurdo. Já repararam que neste mundo sucederam-se povos atrás de povos, impérios atrás de impérios, gerações atrás de gerações e apesar do rolar lento do tempo, da sucessão de milhões de anos, é agora a nossa vez de viver! De estarmos vivos. É fantástico, não é? Já repararam que neste planeta há muitos mais mortos que vivos? E nós estamos vivos!
Bem sei que as coisas não estão famosas, mas mais vale uma vida má em vida que uma boa vida em morto! Há corrupção na política, nos governos, nas autarquias, no futebol, a nossa classe politica gosta de fazer exames ao domingo, doem-me as costas quando corro ou exagero na horta ...blá...blá...blá...

Fui a uma festa de aniversário há uns tempos e encontrei lá um homem de 85 anos que há pouco tempo atrás tinha estado praticamente morto. Não andava, mal falava e da vida esperava apenas a morte. Esteve profundamente deprimido, na sequência da morte da sua companheira de sempre, a sua esposa, falecida em 20O7. Recuperou!
Falei com ele e disse-lhe em tom de brincadeira “Então, como está? Você é rijo como o ferro! E quando esperava um torrente de desgraças, ele respondeu com aquele sorriso paralisante - Vou indo! Ainda não morri! Digo-lhe que está com óptimo aspecto. Ele responde que nesta vida só tem pena de uma coisa… do sexo. E diz-me que ainda há pouco tempo era capaz de dar uma boa cambalhota. Proponho-lhe uma mulher de 30 anos, ele admite já não ser capaz… a não ser que ela esperasse uma boa meia hora, mas não queria ficar mal visto. - Elas já não esperam por ninguém! disse-lhe eu.
- Ainda tenho esperança de dar umas cambalhotas! Eu agora tenho tempo! Estou reformado! rematou.
Esplêndido! Oitenta e cinco anos… E esta capacidade de se centrar nas coisas boas da vida e fundamentalmente de rir de si próprio, de brincar com as próprias fragilidades! - Olhe, disse-me ele, o melhor é agente beber um copo. Ainda hoje vou ferrar o motor! Concluiu com aquele sorriso maroto como se risse da própria vida.
A todos um ano novo cheio de autenticidade. Que digam aquilo que outrora não foram capazes de dizer a quem verdadeiramente amam ou detestam.
E não se esqueçam! O mundo está cheio de mortos!
Eu vou ferrar o motor e depois logo se vê! Até para o ano!

agora como a crise é profunda. As pessoas andam um pouco perplexas. E com razão! O que nos dava mesmo jeito, já que estamos em plena "escaldante" campanha eleitoral, era que o Sr Anibal promete-se a cada português uma bimby e a wii com o kamasutra incorporado. Já se prometeram coisas piores!! Um bom ano a todos!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Canalhices


Os canalhas aprovaram o mais duro orçamento de estado da história da democracia. Os canalhas gastaram 5 milhões em carros blindados. Os canalhas dizem que a situação é difícil. Os canalhas não sabem o que fazer com os carros blindados. Os canalhas compraram submarinos. Os canalhas pagaram mais 365 milhões pelos submarinos. Os canalhas não sabem do dinheiro. Os canalhas baixaram as pensões sociais. Os canalhas reduziram os salários dos trabalhadores. Os canalhas abriram excepções para os gestores das empresas públicas. Os canalhas não taxaram as mais-valias bolsistas dos ricos. Os canalhas reduziram os benefícios sociais dos pobres. Os canalhas venderam sucata. Os canalhas receberam robalos. Os canalhas licenciaram-se ao domingo. Os canalhas renovam a frota automóvel topo de gama das empresas públicas. Os canalhas fecham escolas. Os canalhas pagam salários milionários aos gestores públicos. Os canalhas reduziram o subsídio de desemprego. Os canalhas mandaram parar a obras da linha do Tua e da Lousã. Os canalhas mandaram avançar o TGV e o novo aeroporto. Os canalhas anteciparam dividendos para não pagar impostos. Os canalhas travaram a tributação de dividendos das grandes empresas. Os canalhas subiram a taxa do IVA para 23%. Os canalhas nomeiam amigos. Os canalhas sobem a gasolina antes do preço do petróleo subir. Os canalhas não descem a gasolina quando o preço do petróleo desce. Os canalhas dizem que isto está mau. Os canalhas dizem que isto tem sido mal governado. Os canalhas estiveram sempre na governação. Os canalhas têm um discurso alinhado. Os canalhas protegem-se uns aos outros. Os canalhas estão em toda a parte !!!
Este texto é uma homenagem ao grande Mário Crespo e fecha o ciclo de desconforto deste ano que nos deixa. Para o ano há mais!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O grande preservativo


Não deixa de ser irónico que vivendo nós no auge da grande revolução tecnológica, nomeadamente a das tecnologias da comunicação, estejamos cada vez mais isolados, vazios e encerrados dentro de uma bolha com cada vez menos canais comunicantes. As famílias depois de mais um dia de trabalho iniciam a cavalgada de final de tarde correndo com os filhos de actividade em actividade. Eles, esses verdadeiros cavalos de corrida, correm da música para a natação, da ginástica para o judo, do inglês para a explicação de matemática como se estivessem em plena pista de tartan. Depois do jantar corremos todos, cada um para o seu ecrã e vamos “comunicar” com os nossos 500 amigos no facebook, muitos, amigos apenas virtuais, que nem sequer temos a certeza se nos acudiam caso desmaiássemos num passeio. É neste mundo artificial que passamos a maior parte do nosso tempo livre, a bisbilhotar a vida de pessoas que mal conhecemos e com os quais, nalguns casos, nunca trocámos uma única palavra.
O homem terá sido, de acordo com algumas teorias, a espécie falhada, no sentido em que era profundamente incompetente à nascença. Esta teoria formula que a nossa espécie seria menos preparada para se confrontar com as adversidades do mundo externo que as demais. Enquanto, por exemplo, um pato consegue nadar um minuto depois de nascer, ou um vitelo andar logo que abandona o ambiente uterino, nós, ao contrário, nascemos em situação de grande fragilidade e dependência de cuidados de terceiros. Terá sido aliás essa dependência a responsável pela evolução da espécie, realizada a partir da relação com outros homens. Essa necessidade de cuidar e de ser cuidado, aguçou o engenho, permitindo o desenvolvimento da linguagem, dos afectos, da inteligência, da identidade, da personalidade, e sobretudo das emocões. A partir daí imergiram os papéis sociais e consequentemente todo o processo de socialização – o homem constrói uma ideia de si e do mundo a partir da relação com outros homens, diferentes de si e necessariamente com diferentes experiências e visões do mundo. O homem, portanto, desenvolve-se e distancia-se das demais espécies por uma necessidade absoluta de amparo. Essa incompetência primordial resultaria na perda de muitos indivíduos, dos mais fracos e menos aptos, permitindo a sobrevivência dos mais bem preparados enquadrando-se naquilo a que o inglês Charles Robert Darwin veio a defender mais tarde na sua teoria evolucionista.
Assim, seres humanos pouco competentes e menos hábeis do ponto de vista comunicacional, têm mais dificuldade e falham frequentemente no seu processo de socialização. Esta falha está muitas vezes associada a factores experienciais, ambientais e sobretudo relacionais que muitas vezes conduzem o indivíduo a quadros de perturbação de personalidade.
Naturalmente que não defendo nem associo o sucesso das redes sociais a estes factores, até porque existem pessoas muito competentes do ponto de vista social e que são utilizadores massivos das redes sociais. Ainda assim, penso que não será de todo descabido assumir sem receio que muitas pessoas trocam a comunicação face a face por esta comunicação descomprometida, por ser mais fácil e menos “onerosa” que outras mais próximas e, por isso, mais ameaçadoras.
É frequente, na clínica, encontrar pessoas com 1700 amigos no facebook mas que não têm um só para tomar um simples café.
Sou um utilizador das redes sociais. Todos os dias bisbilhoto um pouquinho da vida dos outros. Todos os dias exercito a minha ânsia voyeurista e todos os dias também levo necessariamente com a veia voyeur, exibicionistas e histriónica de algumas almas ávidas de “palco” e de reconhecimento.
Um dia deste recebi no facebook um pedido de amizade de uma pessoa, com a qual me cruzo frequentemente, mas apesar disso, nunca trocámos uma única palavra. Hesitei, na medida em que a nossa distância relacional era evidente, mas ao cabo de 3 dias aceitei o convite! Vasculhei o seu perfil de ponta a ponta. Fotografias e mais fotografias com poses mais ou menos provocantes onde era nítida a preocupação pela estética e os seus dotes físicos eram cuidadosamente postos em destaque. Viagens, muitas viagens devidamente legendadas para que não restassem dúvidas da sua veia viajante, das suas posses e do seu estatuto social. Pensei - Que mulher interessante. Continuei a vasculhar já a salivar como o cão de Pavlov. Mas nada mais! Para além dos seus atributos físicos, da sua necessidade de levar ao mundo o seu extraordinário estilo de vida, apenas restavam meia dúzia de erros ortográficos e um jogo tipo “Achas que o fulano tal era capaz de andar em cuecas na rua?”
Encontramo-nos casualmente dois dias depois num local público. Fiquei aflito, afinal conhecia imenso daquela mulher e ela de mim. Éramos quase íntimos. Como iniciaria a conversa? Sobre as suas idílicas viagens? Falava do seu corpo escultural? Dos erros ortográficos? Estava ansioso. Não sabia como começar. Depois pensei, ela é que teve a iniciativa do pedido, que seja ela então a fazer as despesas da conversa. Ela continuava a andar, a andar, ia finalmente passar por mim… E no grande momento…passou! Nada! Nem um olhar!
Foda-se! Sussurrei, entre dentes!
Assim a gente até se relaciona mas não engravida da relação. A relação virtual é, na maioria dos casos profundamente estéril! É como viver envolto num enorme preservativo atado pela boca. Estamos lá mas não nos tocamos.
Assim, no ano novo, preventivamente para não salivar em vão, vou eliminar da minha lista de amigos todos aqueles que, apesar de meus amigos virtuais, não falam comigo. São poucos felizmente! Em vez deles vou plantar 50 nabiças no meu quintal e tratá-las com carinho. Pelo menos assim posso relacionar-me desinteressadamente com elas, acompanhar o seu crescimento, sem ter que levar com as suas poses eróticas mais o seu fabuloso estilo de vida!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Ela


Ela tem dores. Ela tem muitas dores. Pesam-lhe as pernas. Pesa-lhe o corpo. Pesa-lhe a angústia. A vontade de trabalhar é a mesma, o afinco, a obstinação, a resistência, são as mesmas. A saúde não! Aquela obsessão pelo trabalho concluído, independentemente do relógio, da fome, das dores, é a mesma. Que dores! O Relógio era a tarefa feita, bem feita. Ao sol. Que sol! Que ardor na pele, que calor na pele. Doem-lhe as pernas, o corpo, a mente! Ela dói-me. Dói-me muito!