quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Essa incubadora de secretários de estado

Para um jovem estudante ou recém-licenciado empreendedor, ambicioso, trabalhador e gosto por desafios, que sonhe ser astronauta, investigador, quadro de uma empresa tecnológica de topo ou até enfermeiro, Portugal não é um país recomendável! Nascer e viver em Portugal pode ser até, neste caso, um azar das caraças!

Na verdade para quem aspira fazer carreira nestas profissões, baseadas no mérito, seria melhor ter nascido nos EUA, Reino Unido ou em qualquer outro país civilizado, para não ter a maçada de emigrar, como acontece à nossa melhor massa cinzenta!

Em contrapartida, se um jovem sem grande jeito para o estudo, cábula, mas bem-nascido, esperto e ambicioso, quiser fazer carreira e fortuna como secretário de estado num governo da nação, se nasceu em Portugal, parabéns! Não poderia ter nascido em lugar mais acertado!

Portugal será, provavelmente, o melhor e o maior aviário de secretários de estado do mundo! Em nenhum outro país se acederá tão cedo e tão facilmente ao lugar! Temos cá, portanto, uma verdadeira incubadora de secretários de estado!

O secretário de estado português é jovem, com idade compreendida entre os 35 e 40 anos, bem falante, jotinha, nunca trabalhou fora da esfera de influência do partido, veste bem, é  bem-nascido e regra geral tem o futuro assegurado à partida. Se por um lado tem acesso aos centros de decisão e negociatas no governo, por outro goza de uma relativa obscuridade, vivendo na sombra dos ministros! Findo o mandato iniciará finalmente a sua carreira numas das muitas empresas dos interesses que superiormente protegeu! Fácil! Emigrar seria bem mais doloroso e sobretudo menos inteligente!

Existe um potencial secretário de estado em cada um de nós. O perfil está inscrito no adn dos portugueses, corre-nos nas veias! Somos o povo do mundo que mais gozo tem em enganar o estado, que é visto como um patrão rico, ingénuo, a quem é suposto tirar o mais possível para nós e para dar aos amigos.

Esta coisa de aldrabar o estado é um desporto nacional! Quantos empresários conhecem que não tenham fugido ao fisco? Quantos indivíduos conhecem que não tenham já aldrabado o estado?

Tomemos como exemplo e apenas como mais um exemplo, o modus operandi do típico funcionário público português - de meia-idade, já a fugir para o obeso, sedentário! Antes de sair de casa para a repartição apaga todas a luzes, desliga o aquecimento, o stand by dos electrodomésticos, percorre toda a casa certificando-se que não há uma única situação de desperdício, que a vida está cara e os tempos são de austeridade. Durante a viagem, sofre uma misteriosa metamorfose e quando chega ao serviço já não é a mesma pessoa. Parece possuído pelo diabo. No caso de ser mulher, a primeira coisa que faz é ligar a escalfeta! Certifica-se que ligou todos os outros equipamentos de aquecimento, todas a luzes, o rádio e finalmente vai tomar café descansada. Quando volta, arregaça a saia, abre as pernas e estaciona em cima da escalfeta até ficar da cor de um tomate maduro da ponta dos pés até às bordas da c… da cueca de gola alta! À hora de almoço, para rentabilizar o aquecimento, deixa tudo ligado!

Durante a viagem de regresso, nova metamorfose e, já em casa, reassume a personalidade poupadora, que a vida custa a todos!

Nas altas escolas de secretários de estado, a saber, as juventudes partidárias dos três maiores partido a filosofia é semelhante, reina a filosofia da usurpação do bem comum - aquilo que é nosso é nosso, o que é do estado é para colocar a mercê do interesse dos nossos amigos que a seu tempo a mim chegará!

Posto isto é vê-los a pulular como pipocas, jovens, bonitos, ricos e sobretudo sem curriculum ou experiencia que justifique tal cargo!

Sendo assim, Portugal não será o rei da chamada corrupção clássica, de sacos cheios de notas, mas somos seguramente os reis da corrupção sistémica, em que os interesses instalados mais facilmente inscrevem na lei e nas instancias reguladoras os seu desejos mais secretos!