segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Os mesmos predadores, as mesmas palavras, o mesmo céu.


Saindo do IP8 em Sines, toma-se a direcção do Algarve para pouco depois, saindo à direita, apanhar a estrada que nos leva por S. Torpes até Porto Covo. A primeira vez que percorri estes caminhos foi mais ou menos há 15 anos. Lembro-me de parar um pouco antes de chegar a Porto Covo e ficar no cimo de uma falésia, em silêncio, a contemplar aquele mar sem fim recortado por falésias luminosas. Fiquei naquele momento preso emocionalmente àquele mar, àquelas praias, àquelas gentes, àquela terra.
A estrada que liga Sines a Porto Covo é a mesma, com os mesmos buracos, os mesmos remendos e o mesmo asfalto de há 15 anos. Às praias de água cristalina, areia branca e limpa, diga-se, continuam a faltar infra-estruturas como chuveiros ou simples lava-pés. Era assim há 15 anos atrás, é assim hoje. Hoje, tal como há 15 anos, não há um parque devidamente equipado para apoio a auto caravanas. Tudo está igual, à excepção da construção civil, desordenada e sem planeamento aparente.
À medida que vou percorrendo aquela estrada até Porto Covo deparo-me com outdoors colocados em pontos estratégicos. Cartazes eleitorais onde se inscrevem frases mais ou menos vazias no rodapé de fotografias dos candidatos à Câmara de Sines, na sua maioria pouco fotogénicos e mal parecidos, onde se promete finalmente progresso e a modernidade para o Concelho.
Penso, sem falar, que raio andou esta gente a fazer estes anos todos?
Mais à frente já a meio caminho entre S. Torpes e Porto Covo, emerge da planície um cartaz enorme onde se pode ler “Os mesmos predadores, as mesmas palavras, o mesmo céu”. Irónico! Não?

Desconfia-se…


Somos um país de desconfiados. O Presidente da Republica desconfia que o governo mandou vigiar e escutar os seus assessores. O Presidente desconfia portanto do Primeiro-ministro. Quanto ao Primeiro-ministro, já se sabe há muito que desconfia do Presidente.
Desconfia-se que o Primeiro-ministro possa estar envolvido no caso Freeport, que assinou projectos que não fez e desconfia-se ainda de mais umas coisas. Desconfia-se que o homem não é sequer engenheiro e desconfia-se também que a Universidade Independente era a uma espécie de “novas oportunidades” para muitos membros do PS.
Desconfia-se, tal como Medina Carreira, que a maioria dos actuais políticos anda na política para “governar a vidinha”. Desconfia-se que Isaltino Morais meteu um milhões na Suíça. Desconfia-se também que o dinheiro era de um sobrinho. Desconfia-se que Fátima Felgueiras tinha um “Saco Azul”. Desconfia-se que a MOTA ENGIL, é a construtora oficial do Governo. Desconfia-se que existem pressões e promiscuidades de bancos e construtoras para que o TGV e o novo Aeroporto avancem, doa a quem doer. Desconfia-se que o Primeiro-ministro tentou seduzir Joana Amaral Dias a integrar as listas do PS para as legislativas, prometendo-lhe a presidência do Instituto da Droga e da Toxicodependência. Desconfia-se que estes lugares de nomeação política são abertamente traficados em troca de favores e de jeitinhos políticos. Desconfia-se que a nova lei do financiamento dos partidos políticos já rende milhões. Desconfia-se que só o PS vai gastar cerca de 10 milhões nas próximas eleições legislativas. Desconfia-se… desconfianças.
Com tanta desconfiança, começo a desconfiar que não vou votar nas próximas eleições!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O menino Isaltino



O que o processo Isaltino Morais nos mostrou foi que em Portugal existe uma justiça para ricos e outra para pobres. O que o menino Isaltino nos mostrou foi que as condenações em primeira instancia são só para os pobres. O que o caso Isaltino nos mostrou foi que em Portugal os bandidos com dinheiro, ainda que roubado ou ganho de forma desonesta, são intocáveis… impunes. Só esta semana vimos duas dessas figuras bizarras a cantar de galo à porta dos respectivos tribunais. Nos EUA, o caso Madoff levou nove meses a ser resolvido... 150 anos de prisão... sem apelo. Em Portugal resta-nos continuar a ser governados por esta corja e ilustres intocáveis.

domingo, 19 de julho de 2009

A Justiça anda cega


O termo justiça, do latim iustitia, diz respeito à igualdade de todos os cidadãos. É o princípio básico de um acordo que objectiva manter a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal (constitucionalidade das leis) ou na sua aplicação a casos específicos (litígio). Sua ordem máxima, representada em Roma por uma estátua, com olhos vendados, visa seus valores máximos onde "todos são iguais perante a lei" e "todos têm iguais garantias legais", ou ainda, "todos têm iguais direitos". A justiça deve buscar a igualdade entre os cidadãos.
O Poder Judiciário no Estado moderno tem a tarefa da aplicação das leis promulgadas pelo Poder Legislativo. É boa doutrina democrática manter independentes as decisões legislativas das decisões judiciais, e vice-versa, como uma das formas de evitar o despotismo. Segundo Aristóteles, o termo justiça denota, ao mesmo tempo, legalidade e igualdade. Assim, justo é tanto aquele que cumpre a lei (justiça em sentido universal) quanto aquele que realiza a igualdade (justiça em sentido estrito). Posta esta breve introdução, podemos concluir que a justiça teve origem na necessidade de combater as desigualdades, por outras palavras evitar que os mais fortes se sobreponham indiscriminadamente aos mais fracos!

Agora pensem nos casos da justiça Portuguesa. Já pensaram? Esqueçam! Não percam tempo.

Ilusão de ser


A queda é abrupta, quase me cola os órgãos. De repente, tudo perde a glória, tudo cheira a bafio. Tudo é velho. De repente dou de caras com a velha senhora, companheira de sempre, confidente inseparável. Sei onde está. Sabe onde estou. Coabitamos… apenas dormita um sono leve enquanto aguarda para relembrar que… afinal tudo é fantasia…tudo é delírio…tudo é nada. De repente é preciso mudar… mudar tudo. De repente é preciso preservar… preservar o pouco. De repente o tempo corre, o tempo passa. De repente será tarde para mudar…tarde para viver!
De manhã o sol nasce, se eleva no horizonte iluminando o meu jardim. Seco… árido. De repente imergem vidas das cinzas. Abandonam-se as mortalhas. Sacodem-se poeiras, limpam-se as lágrimas mudas. E tudo volta ao inicio, ao nada, à ilusão de ser.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Conluio da Cegueira


Sou relativamente distraído e isolado e por isso, por vezes, distante face ao mundo. Para agravar, tenho uma forma peculiar de ver o mundo, sou daltónico e digamos que faço uma deficiente leitura do mundo. Amiúde resvalo para visões um pouco catastróficas acerca do que me rodeia - um pouco paranóicas quiçá. Admito! Talvez a psicanálise explique… o bom objecto e o mau objecto, o bom e o mau seio… talvez… Não interessa! Para além de eu ver o mundo com as minhas próprias cores… não sou propriamente doce na relação com o mundo. Se fosse um vinho diria que tinha um pouco de acidez volátil a mais. Mas estou mais ou menos precavido para este meu desvario, conheço mais ou menos as minhas limitações, os meus enviusamentos, as minhas inquinações…mais ou menos! Por isso sabe Deus o esforço que faço para parecer uma pessoa normal!
Há dias descobri que existe uma corrente de estudo que associa a data de nascimento a uma determinada flor. Não levo estas coisas muito a sério, mas espreitei. No meu caso a flor associada é a Mandrágora. Gostei do nome. Na verdade nunca tal tinha ouvido, mas seja ela a flor que for, gostei! Sugere-me uma planta carnívora! Logo agora que começo a ter tendências vegetarianas…só vegetarianas… Ao que parece, e passo a citar, “esta flor tem uma forma que lembra a silhueta de um corpo humano. É fonte de uma substância capaz de induzir a transes hipnóticos, ou estados alterados de consciência, muito úteis à prática de magia. As pessoas que nascem sob o signo de Mandrágora são espiritualmente elevadas e estão sempre em busca do sentido mais profundo da vida e da existência. Não gostam da rotina, do senso comum, da mediocridade. Têm uma natureza intensa e apaixonada, ainda que aparentem uma certa frieza e façam questão de impor algum distanciamento às pessoas em geral. É preciso conhecê-las bem para saber lhes dar o devido valor”.
Não posso deixar de sublinhar que me revejo nesta questão dos transes hipnóticos, ou estados alterados da consciência e fundamentalmente na questão da frieza e distanciamento face aos outros.
Na verdade para experimentarmos estados alterados de consciência e não enxergarmos a realidade, vendo apenas aquilo que nos interessa, não é rigorosamente necessária a utilização de drogas ou sequer a existência de perturbação mental. Basta a vontade de não ver. De facto é possível passar uma vida a ver só o que se quer ver, deixando passar pelo crivo critico tudo o que não nos convém.
De alguma forma somos todos ligeiramente perturbados e isso perturba necessariamente a nossa visão do mundo.
Só esta minha perturbação pode explicar a deconfiança que sinto relativamente a uma notícia que li recentemente.
A noticia refere-se à lei do financiamento dos partidos políticos em que o limite para entregas em dinheiro vivo passou de 22.500€ para 1.250.000€… isso um milhão e duzentos e cinquenta mil euros… em dinheiro vivo. Curioso numa época em que tudo se paga com dinheiro de plástico, os partidos preferem receber em cash! O mais curioso é que a lei passou com a aprovação de todas as bancadas parlamentares, apenas com o voto contra do deputado socialista, António José Seguro. Estarei eu a ficar doido ou ainda há menos de uma semana estavam todos os senhores deputados muito preocupados com a corrupção, o caso freeport e mais não sei o quê.
Existirá alguma pessoa ou empresa que dê dinheiro a um partido sem esperar nenhuma contrapartida? Ou favor político?
Às vezes, atrevo-me a pensar, pasme-se, que a nossa democracia está seriamente doente, que a nossa actual classe politica é medíocre, e que muitos dos nossos políticos são ligeiramente…CORRUPTOS? Será? Puro devaneio!
A coisa não pode estar assim tão mal! Só uma mente perversa como a minha o poderia pensar!
De facto descobrir que tudo isto pode ser verdade é muito doloroso, muito ameaçador. Por isso de vez em quando é mais conveniente… simplesmente, não ver! Estarei só?

sábado, 7 de março de 2009

Pequenos ditadores

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. O exemplo que vejo em volta não aconselha temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima. Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!


O autor deste texto é o jornalista João Pereira Coutinho e fez imediatamente eco em mim. Tinha escrito neste mesmo blog em Setembro que “… nos vamos emulando no “ruído” infernal do dia-a-dia em nome de uma pretensa realização futura. Uma realização plena assente quiçá numa boa condição financeira, numa excelente carreira profissional e em mais não sei quantas coisas grandiosas. É em nome dessa expectativa que nos vamos afastando do essencial e das coisas simples. Acreditamos cegamente que essa concludente vitória final nos conduzirá à felicidade plena. Tudo o que é pequeno ao pé dessa brutal felicidade é insignificante e como tal desvalorizado. “… Vivemos numa sociedade em que todos temos de ter sucesso, ser bonitos, magros e felizes, não podendo sequer sentir-nos tristes...”
Volto a este assunto para chamar a atenção para uma nova prol de pequenos ditadores que por aí anda – Os nossos filhos, esses mesmo! Os gajos têm tudo! Quererem tudo, não têm tolerância a nada! Devem achar que nós quanto tínhamos a idade deles tínhamos direito a aulas de natação, música, ginástica, judo, ballet, televisão no quarto, jogos na Playstation, Magalhães com internet, etc.
Esses gajos têm até o monopólio do computador do pai e da mãe que se vêm gregos para lá pôr o cú. Esses sim são uns verdadeiros reis, habituados a ter tudo. E os pais felizes e orgulhosos por darem o que nunca tiveram. Assim vamos nós rumo ao futuro da humanidade! Que futuro?
Esta nova geração de pais corre o risco de se tornar na última que obedeceu aos seus pais e na primeira a obedecer aos seus filhos! Uma lástima!
O que vai acontecer a esta prol de meninos quando no mundo adulto perceberem que afinal as coisas não caem do céu? Quantos psicólogos e outros mágicos serão necessários para curar tamanhas feridas. Quantos quilos de droga serão precisos para aliviar tamanha dor. Quantos litros de vinho?

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O fiel contribuinte

Mal nasci percebi imediatamente que não pertencia a um país qualquer, desses que não dão importância aos seus cidadãos. Não! Este é um país especial. Senti imediatamente que este país esperava por mim, destinara-me uma missão honrosa: Salvar a pátria da crise! Evitar que este velho país sucumbisse de vez! Esta crise que apesar dos gloriosos governantes que temos tido, teima em não nos largar.
Não podia ter ficado mais feliz! Afinal de contas, mal acabara de nascer e já contavam comigo! Tornei-me então, com gosto, cidadão contribuinte deste grande país.
Já que não tinha combatido na guerra colonial, tinha agora uma oportunidade de ouro para me tornar um herói nacional.
Governava então, no ano de 1982, o VIII Governo Constitucional, mas a culpa da crise não era deles, era sim dos anteriores governantes. Estes, por sua vez herdaram já a crise dos anteriores e assim sucessivamente até D. Afonso Henriques, esse sim o verdadeiro culpado que nos roubou aos Mouros!
Sendo assim, os actuais governantes, esses pobres coitados nada podiam fazer – a crise estava mais gorda que nunca!
Estes governantes apesar de tudo nunca desistiram, foram corajosos, fizeram um trabalho árduo, trabalharam que nem loucos para erguerem o país do fosso, perderam noites, noites a fio, fizeram leis estruturais, alteraram leis, puseram vírgulas, retiraram vírgulas, fizeram estradas, auto-estradas, estádios, túneis, barragens, outlets, pin´s, bancos privados, criaram offshors, comissões de estudo, comissões de estudo do estudo, criaram cargos para directores, cargos para directores gerais, cargos para gestores, gestores gerais, gabinetes de crise, chefes de gabinete e muito mais… gastou-se dinheiro é certo, mas com gente de grande competência vinda de todos os quadrantes, que apenas tinham em comum o facto de pertencerem a aparelhos partidários, serem empreiteiros ou dirigentes desportivos. Nada de mais num grande país! O país merecia!
E o que é que eles ganharam com isso? Nada, só chatices. Gente honesta viu os seus nomes impiedosamente lançados à lama, sujeitos a ignóbeis julgamentos públicos. Uma injustiça!
Figuras tão ilustres como Isaltino Morais, Avelino Ferreira Torres, Pinto da Costa, Mesquita Machado, Valentim Loureiro, José Sócrates, o tio do José Sócrates, Dias Loureiro, foram simplesmente enxovalhados. Outros tiveram mesmo que fugir à pressa para não serem presos, como o caso de Fátima Felgueiras, essa grande autarca a quem o país deveria estar grato, por se ter sacrificado no sol de Ipanema em nome deste grande Portugal.
A sorte é que os tribunais portugueses não vão em fitas e não se deixam enganar! Não condenam assim por dá cá aquela palha estas personagens cobardemente atacadas e julgadas na praça pública!
Outra coisa não seria de esperar dum grande país. Por mim vou orgulhosamente continuar a contribuir para a resolução desta crise.
Outra coisa não seria de esperar de um fiel contribuinte…