quinta-feira, 19 de junho de 2008

Acabou-se o sonho!

Acabou-se o sonho! Portugal está fora do europeu! Confesso que desta vez não me entusiasmei o suficiente. Parece que o país também não. Este tipo de competições tem habitualmente um poder embriagador e hipnotizador sobre os portugueses. Esquecemos-nos durante uns dias que a vida está má, que o preço dos combustíveis nos asfixia, que as taxas de juros nos chupam até ao tutano, que temos uma classe politica medíocre, que temos os Albertos João, os Valentins, os Isaltinos e outros que tais.
Desta vez não! Desta vez os portugueses não saíram apenas para agitar bandeiras e gritar por Portugal, desta vez gritaram também por justiça social, por uma melhor distribuição da riqueza, por medidas compensatórias, ou não fosse Portugal também o pais dos subsídios. Desta vez vieram para a rua os camionistas, ficaram em terra os armadores, perdão os pescadores! Gritaram também os produtores de leite, os agricultores e tivemos até um buzinão.
Se o governo pensava que ia ter descanso enganou-se, se pensava que íamos ser campeões europeus e que podia folgar até final do mês enganou-se!
Os portugueses têm traços maniaco-depressivos. Descem da euforia à desgraça em segundos. Amanhã vão dizer mal do arbitro, do Scolari, vão criticar o pobre do Ricardo e o triste do Paulo Ferreira. Vão acordar e dizer que isto está uma merda, que este país é uma merda, que têm uma vida de merda! E não é que têm razão!!!!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Baco e o "Terroir"

"... Jupiter tomou então das cinzas o feto (Baco) ainda no sexto mês e meteu-o dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação.
Ao tornar-se adulto, Baco apaixona-se pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruta." in mitologia grega.
Parece que Baco foi o primeiro enólogo do universo. Que vinho faria Baco? Um Nectar dos Deus? eih... Mauzito? Aposto que sim. Como poderia ele fazer um vinho bom sem pesticidas, fungicidas e ervicidas e produtos enológicos? Teria Baco carvalho françês, leveduras seleccionadas, enzimas, alimentos para leveduras, controlo de temperatura, sulforoso e acido tartárico? e tostas aromatizadas? Talvez não!!!
Os defensores da biodinâmica aplicada às vinhas afirmam que existe menos vida numa vinha de Bordeaux, que no deserto do Saara. Porquê? Porque os pesticidas e afins matam toda a fauna e flora das vinhas, deixando com o passar dos anos apenas videiras debilitadas e pó seco. Depois na adega vêm os produtos enólogicos, iguais em todo o mundo que completam o ramalhete. Resultado? Vinhos normalizados, standarizados, bairradas tipo alentejo, alentejamos tipo bairrada, etc..., tudo com muita madeira e alta tecnologia. Vinhos ao gosto do mercado, onde o conceito de "terroir" se esbate e o vinho assume o seu papel de verdadeiro combatente nas prateleiras dos hipermercados.
"O ENÓLOGO CERTIFICA-SE QUE A NATUREZA SE VAI EXPRIMIR, COM A MAIOR CLAREZA POSSÍVEL, DENTRO DO COPO" (Andrew Jefford)

Será? Na maioria dos casos penso que não! Infelizmente. Mas existem excepções?
Felizmente muitas! Muitos vinhos aqui e no mundo respeitam o conceito de terroir, onde terra, clima e castas se combinam em verdadeira harmonia gerando grandes vinhos, verdadeiramente únicos. Estes aparecem no mercado a preços proibitivos é certo, mas são verdadeiros nectares do Deuses.
Note-se que em portugal nos últimos tempos têm aparecido alguns fenómenos interessantes. Existem já vinhos sem qualquer estágio em madeira e alguns enólogos trabalham apenas com leveduras indígenas. É um sinal que algo começa a mudar. O consumidor, o verdadeiro regulador do mercado, começa a enjoar tantos vinhos parecidos, produzidos aqui, no Chile, na Austrália, no Alentejo ou na Conchichina.