terça-feira, 22 de abril de 2014

Mas que grandes FDP

Talvez não houvesse melhor ideia para ilustrar o estado do país e simultaneamente celebrar o 40º aniversário do 25 de abril de 74 que esta coisa do sorteio dos carros. Estes grandes FDP tiveram uma ideia genial! Com o sorteio fiscal, finalmente todos os pobres irão pedir factura e acaba-se de vez com a evasão fiscal! Instala-se de vez a democracia! Quem é o pobretana que resiste à ideia de ter um carro topo de gama parado à porta? O dinheiro vai jorrar nos cofres do estado. É que os pobres estão cheios de dinheiro!

Já se sabia que este governo não era de modas e ao contrário de outros governos de outros países que perseguem os ricos, o nosso é especialista em caçar pobres. É uma ideia lógica! Em Portugal os pobres são já uma praga e portanto eles que pagam a crise - essa obra-prima de sucessivos desgovernos, BPP´s, BPN´s e afins. Para quê incomodar os ricos, coitados!

Por outro lado esta ideia instala oficialmente a animação na política nacional, ressentida do eclipse de Alberto João Jardim e do deputado também madeirense da vassoura e outros fanfarrões do género! O panorama andava cinzentão e nada melhor que um sorteio de carros topo de gama alemães para animar a malta!

A grande dúvida é a de saber quem seria a personagem ideal para apresentar o sorteio contra a evasão fiscal! A quem avance os nomes de Dias Loureiro, Duarte lima ou até o do próprio Oliveira e Costa, a comer umas sandes de couratos pelo meio. É que quando se trata de evasão fiscal a coisa tem que ser apresentada por alguém que domine a matéria!

Também concordo com a ideia da senhora presidente da Assembleia da República de arranjar patrocinadores para as comemorações do 25 de Abril. Acho muito bem que se privatize as comemorações. Aliás, não se entende como é que o país que privatizou tudo o que dava lucro, não tenha ainda privatizado as comemorações ou até a própria Assembleia da República. De facto Portugal é um país que sabe marcar a diferença – precisa de receitas, já que tem repetidos deficits anuais, mas privatiza tudo o que dá lucro e fica apenas com o que dá prejuízo! Parece que o capitalistas não gostam de coisas que deem prejuízo. Gostos!

De resto seria até de bom-tom que se privatizassem os próprios deputados. Há muito tempo que os senhores deputados deveriam ostentar na lapela do casaco uma placa publicitárias com a designação de quem de facto os patrocina, tipo o logotipo do BES, BPN, BIC ou mesmo uma farda ou coisa do género. Pelo menos assim ficava tudo muito mais claro! Peca por tardia esta grande ideia! De resto eles, coitados já estão em precária situação de semiprivatização, uma vez que não estão obrigados a qualquer regime de exclusividade e como tal têm de trabalhar de manhã à noite. De manhã na assembleia da república e à tarde nos grupos financeiros ou outros que com sacrifico representam. Recentemente até lhes fizeram uma grande maldade - o projecto de lei que defendia a sua exclusividade foi chumbado pelo PSD, CDS e, imagine-se pelo PS!

Mas voltando aos carros, como é que ninguém nunca se tinha lembrado disto? É que os poderes de um carro topo de gama eram por demais conhecidos. Eles facilitam negócios, ajudam a ganhar concursos, eles impressionam amigos e conhecidos, eles ajudam até a abrir muitos pares de pernas! Toda a gente sabia que aparecer num carro topo de gama na faculdade dava direito a mais umas quantas quecas! Já todos sabiam que o reconhecimento social do sucesso de uma vida de trabalho de um emigrante é proporcional à “bomba” que apresente na terra no mês de Agosto.

De uma forma geral qualquer cidadão é medido socialmente pelo carro que tem estacionado à porta de casa. Na admira pois que qualquer cidadão seja honesto, traficante, politico ou qualquer outro criminoso bem-sucedido queira exibir o seu topo de gama!
O carro topo de gama é assim uma montra e simultaneamente uma espécie de isco, de engodo nacional! Não se compreende como tivemos de esperar 40 anos para que o iluminado Pedro Passos tirasse este Coelho da cartola.

Não admira pois que a nossa actual classe politica veja num automóvel topo de gama o símbolo do sucesso, um poder mágico, mobilizador, disciplinador e até moralizador da sociedade portuguesa. É que para esta geração de governantes jotinhas ter um topo de gama é sinónimo de vingar na vida!

Naturalmente que o governo poderia oferecer outro tipo de recompensa, tipo atribuir caixas de viagra para ajudara resolver o problema da natalidade, ou umas bolsas de estudo para ajudar fixar no país os cérebros portugueses, abrir contas poupança, ou outra merda qualquer! Mas não era a mesma coisa. A paródia nacional exigia uma coisa em grande! Um sorteio de carros! Preocupados com a audiências estão já a SIC e a TVI, que resultou já na mega transferência do João Baião!

É que os nossos governantes são, como escreveu alguém sobre Rui Rio, uns grandes FDP – Fãs De Popós, portanto!

Abençoados!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Agora tudo ou nunca mais

Tenho uma perna mais curta! Sou assim uma espécie de triângulo escaleno andante ou um tripé de pernas irregulares mas firmes. Umas mais que as outras, é certo! Fiquei deprimido, como convém a um bom neurótico claro está. Para comemorar, inscrevi-me na corrida mais dura que alguma vez fizera - o Utax – Trail dos trilhos da Serra da Lousã! Era agora ou nunca mais! Uma prova de 42 km, serra acima, serra abaixo, um poderoso contraste entre beleza e dureza, capaz de nos provocar uma overdose de serotonina!

O Trail Serra da Lousã iniciou-se às 9h em Castanheira de Pêra, seguindo em direcção ao parque eólico na espinha da Serra da Lousã. Depois de percorrer cerca de 7 km no topo desta cumeada, descemos para as aldeias do Catarredor e Vaqueirinho, e daí para a Aldeia do Xisto do Talasnal, onde estava localizado o nosso primeiro abastecimento.

À saída do Talasnal, o percurso do trail desce por um trilho técnico até a uma levada de água, que segue ao longo de 800 m para depois encontrar o trilho de ligação à Aldeia do Xisto do Candal. Aos poucos abandona-se a aldeia e surge um novo trilho em direcção à Cerdeira (o abastecimento seguinte). A passagem por esta Aldeia do Xisto adivinha o fim desta longa subida e depois de um último esforço começam a avistar-se os aerogeradores de Vilarinho e por fim o Trevim, ponto mais alto da Serra da Lousã, com 1205 metros de altitude.

Do Trevim segue-se para Santo António da Neve, passando junto à Capela e aos Poços de Neve - Local de romaria e festa dos povos serranos, a capela e os poços de neve fazem-nos sonhar com tempos remotos em que o povo arduamente recolhia e armazenava a neve, transformando-a no gelo que na época estival seguia em carros de bois até ao Rio Zêzere ou rio Tejo e daí em barcos até à Casa da Neve, que há época detinha o estatuto de fornecedor da casa real e, em caso de o gelo ser abundante, estava autorizada a vende-lo para cafés e hotéis da cidade a oitenta reis o quilo.

Este é o ponto de partida de um trilho imperdível e cheio de história (o trilho do neveiro), que desce para o Coentral Grande, onde estava o último abastecimento da prova. Os últimos quilómetros apresentam um desnível suave ligando o Coentral às aldeias de Sarnadas e Pisões, com passagem pela Praia Fluvial do Poço do Corga, Torgal, e terminando em grande com a passagem pela Praia das Rocas e o sprint final, de gatas, até para a Praça da Notabilidade.

O problema foi que nos enfiamos num café a beber minis pretas a 10km do final da prova e nos esquecemos que os últimos quilómetros, sendo os mais suaves a nível do relevo, seriam os mais cruéis para umas pernas que já massacradas por cerca de 32 quilómetros. Mal engulo o primeiro trago de cerveja, o meu cérebro  festejou, entendendo que a prova tinha acabado. Paralisei. Cheguei à meta paralisado!

Claro está que no domingo estive de cama todo dia e na segunda-feira sentia-me "apenas" um pouco pior! Uma semana antes, preventivamente tinha comprado uma palmilha para enfiar na sapatilha da perna mais curta! Mas, por azar e na pressa do dia, confundi as pernas e acabei por correr mais de quarenta quilómetros com a palminha na sapatilha errada. Por isso diziam, nos postos de controle - Eh pá aquele gajo vai  a correr na diagonal! Eu, estúpido, ria-me a olhar para um parolo qualquer meio torcido que seguia a meu lado!

Seguiu-se uma mais que justificada ida ao endireita por sugestão sábia de um amigo.O homem era um mago claro está, bigode à Tonico Bastos, trinta anos de experiência, dos quais 15 no Japão ou na puta que o pariu e um basto curriculum que ocupava todas as paredes do consultório. Depois de me chamar doido por andar armado em parvo a correr, lá me mandou deitar numa marquesa tamanho XXL, onde, num estranho ritual ancestral, começou entre bufos e urros e revirar de olhos a puxar e repuxar todas as partes do corpo que conseguiu apanhar! Largou-me morto no chão e bastante mais aliviado… na carteira está claro! No dia seguinte recomeçaram as dores, acrescidas da dor de alma por ainda acreditar em endireitas e em estórias da carochinha!