quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Conluio da Cegueira


Sou relativamente distraído e isolado e por isso, por vezes, distante face ao mundo. Para agravar, tenho uma forma peculiar de ver o mundo, sou daltónico e digamos que faço uma deficiente leitura do mundo. Amiúde resvalo para visões um pouco catastróficas acerca do que me rodeia - um pouco paranóicas quiçá. Admito! Talvez a psicanálise explique… o bom objecto e o mau objecto, o bom e o mau seio… talvez… Não interessa! Para além de eu ver o mundo com as minhas próprias cores… não sou propriamente doce na relação com o mundo. Se fosse um vinho diria que tinha um pouco de acidez volátil a mais. Mas estou mais ou menos precavido para este meu desvario, conheço mais ou menos as minhas limitações, os meus enviusamentos, as minhas inquinações…mais ou menos! Por isso sabe Deus o esforço que faço para parecer uma pessoa normal!
Há dias descobri que existe uma corrente de estudo que associa a data de nascimento a uma determinada flor. Não levo estas coisas muito a sério, mas espreitei. No meu caso a flor associada é a Mandrágora. Gostei do nome. Na verdade nunca tal tinha ouvido, mas seja ela a flor que for, gostei! Sugere-me uma planta carnívora! Logo agora que começo a ter tendências vegetarianas…só vegetarianas… Ao que parece, e passo a citar, “esta flor tem uma forma que lembra a silhueta de um corpo humano. É fonte de uma substância capaz de induzir a transes hipnóticos, ou estados alterados de consciência, muito úteis à prática de magia. As pessoas que nascem sob o signo de Mandrágora são espiritualmente elevadas e estão sempre em busca do sentido mais profundo da vida e da existência. Não gostam da rotina, do senso comum, da mediocridade. Têm uma natureza intensa e apaixonada, ainda que aparentem uma certa frieza e façam questão de impor algum distanciamento às pessoas em geral. É preciso conhecê-las bem para saber lhes dar o devido valor”.
Não posso deixar de sublinhar que me revejo nesta questão dos transes hipnóticos, ou estados alterados da consciência e fundamentalmente na questão da frieza e distanciamento face aos outros.
Na verdade para experimentarmos estados alterados de consciência e não enxergarmos a realidade, vendo apenas aquilo que nos interessa, não é rigorosamente necessária a utilização de drogas ou sequer a existência de perturbação mental. Basta a vontade de não ver. De facto é possível passar uma vida a ver só o que se quer ver, deixando passar pelo crivo critico tudo o que não nos convém.
De alguma forma somos todos ligeiramente perturbados e isso perturba necessariamente a nossa visão do mundo.
Só esta minha perturbação pode explicar a deconfiança que sinto relativamente a uma notícia que li recentemente.
A noticia refere-se à lei do financiamento dos partidos políticos em que o limite para entregas em dinheiro vivo passou de 22.500€ para 1.250.000€… isso um milhão e duzentos e cinquenta mil euros… em dinheiro vivo. Curioso numa época em que tudo se paga com dinheiro de plástico, os partidos preferem receber em cash! O mais curioso é que a lei passou com a aprovação de todas as bancadas parlamentares, apenas com o voto contra do deputado socialista, António José Seguro. Estarei eu a ficar doido ou ainda há menos de uma semana estavam todos os senhores deputados muito preocupados com a corrupção, o caso freeport e mais não sei o quê.
Existirá alguma pessoa ou empresa que dê dinheiro a um partido sem esperar nenhuma contrapartida? Ou favor político?
Às vezes, atrevo-me a pensar, pasme-se, que a nossa democracia está seriamente doente, que a nossa actual classe politica é medíocre, e que muitos dos nossos políticos são ligeiramente…CORRUPTOS? Será? Puro devaneio!
A coisa não pode estar assim tão mal! Só uma mente perversa como a minha o poderia pensar!
De facto descobrir que tudo isto pode ser verdade é muito doloroso, muito ameaçador. Por isso de vez em quando é mais conveniente… simplesmente, não ver! Estarei só?