quinta-feira, 17 de julho de 2008

Quem morre?


Este texto não fala de vinho, mas só por mero acaso. Poderia falar...

Quem morre?

"Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca.
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que
conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade."
Pablo Neruda

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Um país esquizofrénico?



Vivemos desde sempre com a ideia que o interior deste país se transformaria mais tarde ou mais cedo num enorme deserto. Ao longo destes muitos anos habituamo-nos à ideia de ver partir novos e velhos nascidos nestas zonas mais remotas, isoladas e profundas de Portugal. É vê-los partir para outras paragens à procura das oportunidades que o seu próprio país lhes negou. Nestas cidades, vilas e aldeias, da agricultura, da indústria, apenas restam memórias doridas.
Quem diria! Um pais que recebeu milhões para combater as assimetrias regionais, um pais que construiu dez estádios para o Euro2004, mas que queria construir doze, um país que sonha realizar jogos olímpicos e mundiais de futebol, um pais que quer o TGV e novos aeroportos, um país que tem alguns dos gestores mais bem pagos do mundo!
Um país de vaidades, de políticos ambiciosos de passam da esfera governativa para o conselhos de administração de empresas privadas e vice-versa como quem troca de camisa.
Será este o mesmo país onde pessoas começam a ter com fome? Onde os governantes nos pedem paciência e nos asfixiam com impostos e nos pedem que paguemos ainda mais impostos em nome da consolidação do défice? Será este o mesmo país onde nos cobram nas facturas da EDP a delirante contribuição audiovisual pelo valor de 3.42 Euros, mesmo que seja um contrato para uma capoeira de galinhas???
Este é o mesmo país onde a clientela dos aparelhos políticos é grande e vive muito bem. Este é o país das assimetrias, sejam elas regionais, na distribuição da riqueza, no acesso a oportunidades, no acesso à saúde, à educação, etc.
Há fome em Portugal e vai haver mais. O "negócio", esse, vai de vento em popa para os conselhos de administração e accionistas das Galp´s das PT´s, para os Boys dos aparelhos partidários, para as fundações Berardos, Soares e Cª. Mas nem tudo é mau! Ao preço a que estão os combustíveis - eis que surge agora uma oportunidade de ouro para combater de vez a desertificação e a interioridade! É certo que a maioria de nós vive demasiado longe da fronteira para se poder abastecer de combustíveis em Espanha. Nada mais fácil. Aproveitemos a oportunidade e mudemo-nos para o interior. E se a coisa assim continuar, mudemo-nos definitivamente para Espanha!!!