domingo, 29 de novembro de 2015

A bairrada está na moda. Se não está parece!

O espumante Bairrada fez anos! 125 Outonos! A primeira empresa vinícola produtora de espumantes, denominada - Associação Vinícola da Bairrada nasce a três de Novembro de 1893. Esta empresa, intimamente ligada à Escola de Viticultura e Pomologia da Bairrada, dirigida então pelo engenheiro agrónomo José Maria Tavares da Silva, é constituída por quatro sócios – o conselheiro José Luciano de Castro (Presidente do Conselho de Ministros em vários períodos da Monarquia Constitucional e líder do Partido Progressista), o comerciante abastado Justino de Sampaio Alegre, o jurista José Paulo Monteiro Cancela e o padre António Alves de Mariz, que desde o início assumiu a gerência da Associação. Um inÍcio abençoado é de ver!

Tratava-se de quatro amantes de champanhe que quiseram replicar em solo bairradino o famoso vinho francês. Para isso mandaram vir de frança o equipamento necessário e sobretudo o know-how, na pessoa do técnico francês M. Lucien Beysecke, por assim dizer o primeiro enólogo estrangeiro a trabalhar em solo nacional.  

Entre o ano de 1893 e a primeira metade do seculo XX nasceram na bairrada mais de três dezenas de empresas vinícolas de relevo que se dedicaram entre outros vinhos, à preparação de espumantes. A maioria destas empresas foi criada por comerciantes abastados, alguns regressados do brasil, homens viajados pelo mundo, de grande espirito empreendedor, habituados a celebrar com champanhe, que acreditavam que o espumante bairradino era um produto com elevado potencial económico e financeiro. Estas empresas estiveram na origem das maiores empresas bairradinas da actualidade, como as Caves do Solar de São Domingos, Caves Messias, Caves Borlido, Caves Monte Crasto, Caves Primavera, Caves S. João, Caves Aliança, entre outras. Eram tempos de grande dinamismo, à custa de homens visionários que lançaram as primeiras pedras de uma história que poderiam ter sido bem mais risonha.

Na verdade, a produção de espumante na bairrada cedo resvala para caminhos tortuosos. Se no início a ideia era fazer vinhos de grande qualidade capazes de rivalizar com os famosos néctares franceses, a verdade é que com a chegada de novos operadores depressa a produção de espumantes deixa de ser  direcionada para a excelência, para se tornar um subproduto da actividade vinícola. Muitas empresas apostam sobretudo na produção de vinhos tranquilos, reservando para a espumantização vinhos de menor qualidade ou até elaboram espumantes a partir de vinhos comprados fora da região, sem denominação de origem.
Desta forma o espumantes bairradino não percorreu o caminho antes idealizado, não se constituiu como um produto distinto e sobretudo não criou valor. Prova disso é o facto do preço médio de cada garrafa de espumante bairradino exportada se situar nos 2.90 euros, enquanto o preço médio de uma garrafa de champanhe se situa perto dos 17 euros.
Mas as coisas estão a mudar e muita coisa boa se tem feito nos últimos anos. Agora que os consumidores se cansaram dos vinhos politicamente correctos, educadinhos e normalizadinhos, a Bairrada parece ter caído no goto dos críticos. A bairrada está na moda. Se não está parece!
Para aproveitar esta onda, a Comissão Vitivinícola da Bairrada criou o projeto Baga Bairrada, uma iniciativa aberta a todos os produtores da Região, que pretende estabelecer um standard colectivo para o espumante "Baga Bairrada", um produto distinto, com regras de produção e identidade gráfica próprias.
Assegura um estilo que possa diferenciar os espumantes brancos de uvas tintas no mercado interno e também perspectivar a sua afirmação no mercado internacional, onde o espumante português por vezes tem dificuldades em afirmar as suas especificidades. O objetivo deste projecto passa, assim, pela promoção e divulgação, a nível regional, nacional e internacional, do valor natural e patrimonial da casta Baga, típica da região da Bairrada.
Refira-se contudo, a título de curiosidade e de soberana ironia, que o primeiro espumante branco feita com uvas da casta baga apresentado na camara de provadores da bairrada foi  chumbado por o seu perfil não se enquadrar naquilo que se definia ser o perfil bairrada de então. Foi há 25anos. Ainda recentemente um dos grandes brancos da bairrada foi também chumbado pela camara pelo mesmo motivo. Para muitos a camara de provadores ao invés de ajudar promover a região, é apontada como um factor de estagnação.

A Comissão Vitivinícola da Bairrada assinalou a efeméride no passado dia 27 de Novembro com um dia de debate acerca dos desafios do espumante bairrada e da casta baga. A discussão versou aspectos técnicos na vinificação da casta, mas sobretudo as opções estratégicas para levar o espumante baga ao mundo. Uma bela iniciativa com uma organização absolutamente irrepreensível! À hora do almoço foi servido um excelente leitão com batata cozida e uma seleção dos melhores espumantes bairradinos. A bairrada, a casta baga e os seus espumantes estão definitivamente nas bocas do mundo!