sábado, 28 de fevereiro de 2009

O fiel contribuinte

Mal nasci percebi imediatamente que não pertencia a um país qualquer, desses que não dão importância aos seus cidadãos. Não! Este é um país especial. Senti imediatamente que este país esperava por mim, destinara-me uma missão honrosa: Salvar a pátria da crise! Evitar que este velho país sucumbisse de vez! Esta crise que apesar dos gloriosos governantes que temos tido, teima em não nos largar.
Não podia ter ficado mais feliz! Afinal de contas, mal acabara de nascer e já contavam comigo! Tornei-me então, com gosto, cidadão contribuinte deste grande país.
Já que não tinha combatido na guerra colonial, tinha agora uma oportunidade de ouro para me tornar um herói nacional.
Governava então, no ano de 1982, o VIII Governo Constitucional, mas a culpa da crise não era deles, era sim dos anteriores governantes. Estes, por sua vez herdaram já a crise dos anteriores e assim sucessivamente até D. Afonso Henriques, esse sim o verdadeiro culpado que nos roubou aos Mouros!
Sendo assim, os actuais governantes, esses pobres coitados nada podiam fazer – a crise estava mais gorda que nunca!
Estes governantes apesar de tudo nunca desistiram, foram corajosos, fizeram um trabalho árduo, trabalharam que nem loucos para erguerem o país do fosso, perderam noites, noites a fio, fizeram leis estruturais, alteraram leis, puseram vírgulas, retiraram vírgulas, fizeram estradas, auto-estradas, estádios, túneis, barragens, outlets, pin´s, bancos privados, criaram offshors, comissões de estudo, comissões de estudo do estudo, criaram cargos para directores, cargos para directores gerais, cargos para gestores, gestores gerais, gabinetes de crise, chefes de gabinete e muito mais… gastou-se dinheiro é certo, mas com gente de grande competência vinda de todos os quadrantes, que apenas tinham em comum o facto de pertencerem a aparelhos partidários, serem empreiteiros ou dirigentes desportivos. Nada de mais num grande país! O país merecia!
E o que é que eles ganharam com isso? Nada, só chatices. Gente honesta viu os seus nomes impiedosamente lançados à lama, sujeitos a ignóbeis julgamentos públicos. Uma injustiça!
Figuras tão ilustres como Isaltino Morais, Avelino Ferreira Torres, Pinto da Costa, Mesquita Machado, Valentim Loureiro, José Sócrates, o tio do José Sócrates, Dias Loureiro, foram simplesmente enxovalhados. Outros tiveram mesmo que fugir à pressa para não serem presos, como o caso de Fátima Felgueiras, essa grande autarca a quem o país deveria estar grato, por se ter sacrificado no sol de Ipanema em nome deste grande Portugal.
A sorte é que os tribunais portugueses não vão em fitas e não se deixam enganar! Não condenam assim por dá cá aquela palha estas personagens cobardemente atacadas e julgadas na praça pública!
Outra coisa não seria de esperar dum grande país. Por mim vou orgulhosamente continuar a contribuir para a resolução desta crise.
Outra coisa não seria de esperar de um fiel contribuinte…