Acordei molhado, corpo fumegante,
envolto em fluidos quentes e húmidos que deixavam adivinhar o deboche, a
conduta devassa. Emanava no ar uma complexa dança de aromas - uma mistura estranha
de odores a pão quente, citrinos, frutas tropicais e um cheiro fétido a peixe.
Eram sacos por todo o lado!
Ali prostrado contra aquele
mar de materiais orgânicos poliméricos sintéticos, de
constituição macromolecular,
com os olhos fixos no tecto, saciado, tentava voltar a mim e recuperar da
respiração ofegante depois daquela overdose de polietileno de
baixa densidade.
Eram sacos de todos os
formatos e feitios, opacos, transparentes, coloridos, finos e espessos, de
linha branca e personalizados. Do Lidl, do Continente, do Jumbo, do Pingo Doce,
da Loja dos Chineses, da mercearia do lado, do Minipreço, ai a sensualidade dos
do Minipreço! No sonho, a cama eram um mar de sacos de plástico que a
transformavam numa nuvem leve e sensual, qual colchão de água. Rebolei-me ali,
com os sacos apertados contra o peito, até que um sentimento de saciação
orgástica tomou conta de mim. Finalmente acordado, confirmava a crua e cruel
realidade – o coirão do governo acabou com os sacos de plástico. Estou viciado
em sacos de plástico. Dependente!
Com tanta merda para taxar,
estes animais foram logo lembrar-me de taxar os tristes dos sacos de plástico.
As malas de viagem dos pobres! Assim sem avisar! Em Portugal é assim, somos
maníaco-depressivos, ou não fazemos nada ou fazemos tudo à pressa, em cima do
joelho, tipo vender o novo banco e a tap por tuta e meia. Há em nós uma espécie
de atração pelos polos. Nos bons e maus momentos adoptamos posições que
deambulam entre os oito e os oitenta. E pior, passamos de uma posição para a
outra num abrir e fechar de olhos! Ou acabamos tudo de uma hora para a outra ou
perpetuamos ad aeternum outras, como os previliégios dos juizes
por exemplo, que garantem privilégios do tempo do império
romano.
Mas acabar desta forma com
os sacos é demais! Um gajo ia ao supermercado comprava oito produtos que punha
em dezoito sacos e ainda enchia outro saco com mais quarenta sacos para qualquer
eventualidade, que os portugueses são prevenidos. Os
sacos davam cá um jeito para apanhar o cocó do cão ou para usar na cabeça em
dias de chuva ou até para dar uma queca no mato ou quiçá em substituição do
preservativo.
Mas porque é que o governo
não se lembra de taxar as nomeações políticas e a ascensão nas carreiras dos
políticos? Por exemplo a carreira do Armando Vara renderia montes de papel. Se
atentarmos no percurso do outrora caixa de banco, provinciano, pobretana e mais
recentemente doutor, administrador e multimilionário era só faturar! Aquilo é que foi saltitar! Era
vê-lo de cargo em cargo até se fixar nos calabouços da Policia Judiciária. Se
houvesse mais cargos superiores e melhor remunerados, mais o animal teria
subido! Mas não confundamos este Vara com outra vara, um conjunto de porcos,
para não ofender os ditos. Já repararam o dinheiro que este homem tinha rendido
aos cofres do estado se fossem tributadas as suas nomeações políticas?
A extinção dos sacos de plástico dos
supermercados era pois evitada assim desta forma abrupta. Poderia ter havido um
período de transição, tipo primeiro acabavam os do Lidl, que são alemães,
depois os do continente e assim sucessivamente até 2165! Mas não. Foi tudo à
bruta! Não acontecia uma extinção em massa tão dramática desde a extinção dos
dinossauros! Agora um individuo anda aqui a ressacar sacos de plástico. Quer um
simples saco, corre a casa toda e nada. É uma dor de cabeça. Antigamente
tínhamos até umas caixas de plástico próprias compradas nos chineses para os
arrumar. Aquilo era super divertido, agente puxava e saía um saco surpresa!
Eram sacos por todo o lado, nas portas laterais dos carros, nos bolsos, nas
despensas, debaixo da cama.
Os ucranianos e outras criaturas de
leste embelezavam as ruas das nossas vilas e cidades vindos do Lidl com eles
cheios de latas de feijão frade e atum. Agora não, as ruas estão tristes!
O saco de plástico tornou-se um
objecto de culto só acessível às minorias intelectuais. Um dia, daqui a
sessenta ou oitenta milhões de anos, tal como acontece com o dinossauros, a
humanidade vai encontrar por essas serras uns plásticos fossilizados e
expô-los-á em museus. Vão chegar excursões de pacóvios de todo o lado para
contemplar tamanho achado.
O pior é o pessoal que anda ai a bater
mal por falta de plástico. Há já casos de síndromes de abstinência, vulgo
ressaca, com aumento generalizado da ansiedade, ataques de pânico, depressão e
ideação suicida! Naturalmente que a venda de antidepressivos e ansiolíticos
disparou.
Segundo as más-línguas isto foi tudo
pensado estrategicamente pelo governo para sacar mais uns milhões em taxas
moderadoras nos hospitais. Isto é que é visão estratégica. Os outros nem uns
cartazes de campanha conseguem fazer! O pior é que já há quem sonhe com sacos
de plástico.