quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Orgia

Acordei molhado, corpo fumegante, envolto em fluidos quentes e húmidos que deixavam adivinhar o deboche, a conduta devassa. Emanava no ar uma complexa dança de aromas - uma mistura estranha de odores a pão quente, citrinos, frutas tropicais e um cheiro fétido a peixe. Eram sacos por todo o lado!
Ali prostrado contra aquele mar de materiais orgânicos poliméricos sintéticos, de constituição macromolecular, com os olhos fixos no tecto, saciado, tentava voltar a mim e recuperar da respiração ofegante depois daquela overdose de polietileno de baixa densidade.
Eram sacos de todos os formatos e feitios, opacos, transparentes, coloridos, finos e espessos, de linha branca e personalizados. Do Lidl, do Continente, do Jumbo, do Pingo Doce, da Loja dos Chineses, da mercearia do lado, do Minipreço, ai a sensualidade dos do Minipreço! No sonho, a cama eram um mar de sacos de plástico que a transformavam numa nuvem leve e sensual, qual colchão de água. Rebolei-me ali, com os sacos apertados contra o peito, até que um sentimento de saciação orgástica tomou conta de mim. Finalmente acordado, confirmava a crua e cruel realidade – o coirão do governo acabou com os sacos de plástico. Estou viciado em sacos de plástico. Dependente!
Com tanta merda para taxar, estes animais foram logo lembrar-me de taxar os tristes dos sacos de plástico. As malas de viagem dos pobres! Assim sem avisar! Em Portugal é assim, somos maníaco-depressivos, ou não fazemos nada ou fazemos tudo à pressa, em cima do joelho, tipo vender o novo banco e a tap por tuta e meia. Há em nós uma espécie de atração pelos polos. Nos bons e maus momentos adoptamos posições que deambulam entre os oito e os oitenta. E pior, passamos de uma posição para a outra num abrir e fechar de olhos! Ou acabamos tudo de uma hora para a outra ou perpetuamos ad aeternum outras, como os previliégios dos juizes por exemplo, que garantem privilégios do tempo do império romano.
Mas acabar desta forma com os sacos é demais! Um gajo ia ao supermercado comprava oito produtos que punha em dezoito sacos e ainda enchia outro saco com mais quarenta sacos para qualquer eventualidade, que os portugueses são prevenidos. Os sacos davam cá um jeito para apanhar o cocó do cão ou para usar na cabeça em dias de chuva ou até para dar uma queca no mato ou quiçá em substituição do preservativo.
Mas porque é que o governo não se lembra de taxar as nomeações políticas e a ascensão nas carreiras dos políticos? Por exemplo a carreira do Armando Vara renderia montes de papel. Se atentarmos no percurso do outrora caixa de banco, provinciano, pobretana e mais recentemente doutor, administrador e multimilionário era só faturar! Aquilo é que foi saltitar! Era vê-lo de cargo em cargo até se fixar nos calabouços da Policia Judiciária. Se houvesse mais cargos superiores e melhor remunerados, mais o animal teria subido! Mas não confundamos este Vara com outra vara, um conjunto de porcos, para não ofender os ditos. Já repararam o dinheiro que este homem tinha rendido aos cofres do estado se fossem tributadas as suas nomeações políticas?
A extinção dos sacos de plástico dos supermercados era pois evitada assim desta forma abrupta. Poderia ter havido um período de transição, tipo primeiro acabavam os do Lidl, que são alemães, depois os do continente e assim sucessivamente até 2165! Mas não. Foi tudo à bruta! Não acontecia uma extinção em massa tão dramática desde a extinção dos dinossauros! Agora um individuo anda aqui a ressacar sacos de plástico. Quer um simples saco, corre a casa toda e nada. É uma dor de cabeça. Antigamente tínhamos até umas caixas de plástico próprias compradas nos chineses para os arrumar. Aquilo era super divertido, agente puxava e saía um saco surpresa! Eram sacos por todo o lado, nas portas laterais dos carros, nos bolsos, nas despensas, debaixo da cama.
Os ucranianos e outras criaturas de leste embelezavam as ruas das nossas vilas e  cidades vindos do Lidl com eles cheios de latas de feijão frade e atum. Agora não, as ruas estão tristes!
O saco de plástico tornou-se um objecto de culto só acessível às minorias intelectuais. Um dia, daqui a sessenta ou oitenta milhões de anos, tal como acontece com o dinossauros, a humanidade vai encontrar por essas serras uns plásticos fossilizados e expô-los-á em museus. Vão chegar excursões de pacóvios de todo o lado para contemplar tamanho achado.
O pior é o pessoal que anda ai a bater mal por falta de plástico. Há já casos de síndromes de abstinência, vulgo ressaca, com aumento generalizado da ansiedade, ataques de pânico, depressão e ideação suicida! Naturalmente que a venda de antidepressivos e ansiolíticos disparou.
Segundo as más-línguas isto foi tudo pensado estrategicamente pelo governo para sacar mais uns milhões em taxas moderadoras nos hospitais. Isto é que é visão estratégica. Os outros nem uns cartazes de campanha conseguem fazer! O pior é que já há quem sonhe com sacos de plástico.
 

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