O espumante Bairrada fez anos! 125
Outonos! A primeira empresa vinícola produtora de espumantes, denominada -
Associação Vinícola da Bairrada nasce a três de Novembro de 1893. Esta empresa,
intimamente ligada à Escola de Viticultura e Pomologia da Bairrada, dirigida então
pelo engenheiro agrónomo José Maria Tavares da Silva, é constituída por quatro
sócios – o conselheiro José Luciano de Castro (Presidente do Conselho de
Ministros em vários períodos da Monarquia Constitucional e líder do Partido
Progressista), o comerciante abastado Justino de Sampaio Alegre, o jurista José
Paulo Monteiro Cancela e o padre António Alves de Mariz, que desde o início
assumiu a gerência da Associação. Um inÍcio abençoado é de ver!
Tratava-se de quatro amantes de champanhe que quiseram replicar em solo
bairradino o famoso vinho francês. Para isso mandaram vir de frança o
equipamento necessário e sobretudo o know-how, na pessoa do técnico francês M. Lucien Beysecke, por assim dizer o
primeiro enólogo estrangeiro a trabalhar em solo nacional.
Entre o ano de 1893 e a primeira
metade do seculo XX nasceram na bairrada mais de três dezenas de empresas
vinícolas de relevo que se dedicaram entre outros vinhos, à preparação de
espumantes. A maioria destas empresas foi criada por comerciantes abastados,
alguns regressados do brasil, homens viajados pelo mundo, de grande espirito
empreendedor, habituados a celebrar com champanhe, que acreditavam que o
espumante bairradino era um produto com elevado potencial económico e financeiro. Estas
empresas estiveram na origem das maiores empresas bairradinas da actualidade,
como as Caves do Solar de São Domingos, Caves Messias, Caves Borlido, Caves Monte
Crasto, Caves Primavera, Caves S. João, Caves Aliança, entre outras. Eram
tempos de grande dinamismo, à custa de homens visionários que lançaram as
primeiras pedras de uma história que poderiam ter sido bem mais risonha.
Na verdade, a produção de espumante
na bairrada cedo resvala para caminhos tortuosos. Se no início a ideia era
fazer vinhos de grande qualidade capazes de rivalizar com os famosos néctares
franceses, a verdade é que com a chegada de novos operadores depressa a
produção de espumantes deixa de ser direcionada para a
excelência, para se tornar um subproduto da actividade vinícola. Muitas empresas apostam sobretudo na
produção de vinhos tranquilos, reservando para a espumantização vinhos de menor
qualidade ou até elaboram espumantes a partir de vinhos comprados fora da
região, sem denominação de origem.
Desta forma o espumantes bairradino
não percorreu o caminho antes idealizado, não se constituiu como um produto distinto e sobretudo
não criou valor. Prova disso é o facto do preço médio de cada garrafa de
espumante bairradino exportada se situar nos 2.90 euros, enquanto o preço médio
de uma garrafa de champanhe se situa perto dos 17 euros.
Mas as coisas estão a mudar e muita
coisa boa se tem feito nos últimos anos. Agora que os consumidores se cansaram
dos vinhos politicamente correctos, educadinhos e normalizadinhos, a Bairrada
parece ter caído no goto dos críticos. A bairrada está na moda. Se não
está parece!
Para aproveitar esta onda, a Comissão Vitivinícola da Bairrada criou o projeto Baga Bairrada, uma iniciativa aberta a
todos os produtores da Região, que pretende estabelecer um standard colectivo
para o espumante "Baga Bairrada", um produto distinto, com regras de
produção e identidade gráfica próprias.
Assegura um estilo que possa diferenciar os espumantes brancos de uvas tintas no mercado interno e também perspectivar a sua afirmação no mercado internacional, onde o espumante português por vezes tem dificuldades em afirmar as suas especificidades. O objetivo deste projecto passa, assim, pela promoção e divulgação, a nível regional, nacional e internacional, do valor natural e patrimonial da casta Baga, típica da região da Bairrada.
Assegura um estilo que possa diferenciar os espumantes brancos de uvas tintas no mercado interno e também perspectivar a sua afirmação no mercado internacional, onde o espumante português por vezes tem dificuldades em afirmar as suas especificidades. O objetivo deste projecto passa, assim, pela promoção e divulgação, a nível regional, nacional e internacional, do valor natural e patrimonial da casta Baga, típica da região da Bairrada.
Refira-se
contudo, a título de curiosidade e de soberana ironia, que o primeiro espumante
branco feita com uvas da casta baga apresentado na camara de provadores da
bairrada foi chumbado por o seu perfil não se enquadrar naquilo que se
definia ser o perfil bairrada de então. Foi há 25anos. Ainda recentemente um dos grandes
brancos da bairrada foi também chumbado pela camara pelo mesmo motivo. Para
muitos a camara de provadores ao invés de ajudar promover a região, é apontada
como um factor de estagnação.
A Comissão Vitivinícola da Bairrada assinalou a efeméride no
passado dia 27 de Novembro com um dia de debate acerca dos desafios do
espumante bairrada e da casta baga. A discussão versou aspectos técnicos na vinificação
da casta, mas sobretudo as opções estratégicas para levar o espumante baga ao mundo.
Uma bela iniciativa com uma organização absolutamente irrepreensível! À
hora do almoço foi servido um excelente leitão com batata cozida e uma seleção dos melhores
espumantes bairradinos. A bairrada, a casta baga e os seus espumantes estão definitivamente nas
bocas do mundo!
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