Em Portugal não é fácil ir preso. Veja-se o infeliz exemplo do azarado Isaltino Morais. O homem tem feito de tudo para ir preso e não consegue. Ele recebeu sacos cheios de dinheiro no seu gabinete. Ele licenciou obras a troco de umas massas. Ele mandou à descarada pazadas de euros para o sobrinho na suíça e nada. Nunca teve sorte.
Mais sorte teve aquela velhinha no Porto que, por roubar uma caixa de pensos higiénicos no supermercado apanhou 6 meses de cadeia. Bem feito! Para que é que a velha queria pensos higiénicos. Com certeza para trocar por droga, montar uma conspiração ou outra coisa perigosa para a nossa democracia. Abusou. Lixou-se! O estado tem que ser implacável com estes casos. Mas o Isaltino não. Esse nasceu sem sorte. E isto de ir preso não é para todos! Não vá um gajo desviar uns milhões e querer logo ir preso por dá cá aquela palha. Não! Isto aqui chia fino. É uma justiça à seria!
Outros, coitados, também têm tentado de tudo mas nada! Dias Loureiro, Oliveira e Costa, Duarte Lima, Armando Vara e Sócrates, são apenas exemplos de gente sem sorte.
De qualquer forma penso que deveríamos dar o valor a quem o tem. Em Portugal impera uma invejosice mesquinha que nos impede de reconhecer o mérito pessoal. Isaltino Morais provou em tese aquilo que muitos académicos nunca conseguiram - Que em Portugal é possível não ir preso quando se tem dinheiro e acesso aos grandes gabinetes de advogados. Esse mérito ninguém lho pode tirar. Existem por ai milhares de teses de mestrado e doutoramento, de grandes figuras académicas, que nenhuma utilidade e interesse têm comparado com a fantástica tese de Isaltino Morais. E isso é obra!
Desta forma uma estátua sua em frente à Procuradoria-Geral da República Portuguesa seria o mínimo que Portugal podia e deveria fazer em homenagem a tão grande figura.
Mas o mais adequado e prestigiante para a justiça portuguesa seria a nomeação de Isaltino Morais para o cargo de Procurador-geral da República. Agora que se escolheu o novo Procurador, foi pena que assim não tivesse acontecido.
Numa altura em que o Estado gasta milhões em longos processos que nada produzem e necessita desesperadamente de reduzir a despesa pública, seria um exemplo de boa gestão entregar o cargo a tão competente pessoa. Os resultados seguramente seriam os mesmos. Mas quando desaparecessem escutas ou outras provas dos processos, como no caso dos submarinos. Ou se continuasse a arquivar sistematicamente processos por falta de provas, de tempo ou dinheiro para as recolher. Ou quando não houvesse tempo em quatro ou cinco anos para convocar e fazer meias dúzia de perguntas ao Sócrates, como no caso Freeport, já ninguém estranharia. A culpa era do traquina do Isaltino!
Assim a culpa não morria invariavelmente solteira! E poupava-se muito dinheiro em investigações!
Os resultados seriam naturalmente os mesmos, mas pelos menos acabavam-se as nossas expectativas sobre tão triste e decepcionante justiça.
Alberto Almeida escreve de acordo com a antiga ortografia.