Com o nosso país à beira de um
segundo resgate e, se for o caso, provavelmente do abismo, os portugueses
insistem, após quase 40 anos de democracia, em tentar reinventar o seu futuro e
o do país insistindo na velha fórmula de sempre. Votar sempre nos mesmos
partidos, nas mesmas caras, nos mesmos interesses e esperar milagrosamente que algo
mude. É obra! E da difícil! Assim, o palco da política portuguesa mais não tem
sido que uma porta giratória em que, à vez, os três maiores partidos e
interesses associados esperam a sua oportunidade para se sentar à mesa do
repasto!
O próximo dia 29 de Setembro
promete, assim, mais do mesmo! Os portugueses, se não houver uma luz que os
ilumine, irão votar no mesmos actores, nos mesmos vícios de governação e
esperar pacientemente um milagre - resultados de governação diferentes! Basta lembrar que
mais de 80% dos candidatos à liderança dos órgãos autárquicos são actuais
presidentes ou vice-presidentes de camara. As fileiras partidárias e os seus
cãos de fila estão mais cerradas que nunca e o espaço para a renovação é pouco
mais que uma utopia. Assiste-se, na vida política portuguesa, à instauração de autênticas
dinastias, em que filhos sucedem aos seus pais!
Insistir num tratamento que se
revelou e revela ineficaz e esperar que o doente melhor parece ser a crença e a
sina da maioria dos portugueses.
O Concelho de Miranda do Corvo
não foge à regra. Com uma força politica instalada há 12 anos no
poder e a fazer uso da máquina da governação no que ela tem de pior, com um PS amorfo,
a apostar na algazarra mas deserto de ideias, um bloco de esquerda local
abandonado à sua sorte, por uma improvável liderança bicéfala e uma CDU com uma
candidata forte, com ideias e obra feita, que não vive da politica, mas acompanhada
e apoiada por comunistas, daqueles que comem crianças ao pequeno-almoço, resta
aos mirandenses votarem como sempre, nos mesmos actores políticos de sempre e esperar, sentados, que o milagre aconteça!
O cenário quotidiano da nossa
democracia também não mudou muito nos últimos 40 anos. Um país em que as ilusões
deram lugar inevitavelmente a desilusões! Um país de vendedores de sonhos
virados pesadelo. Um país que recebeu milhares de milhões, mas que ficou mais
pobre, mais longe dos seus parceiros europeus, mais fustigado pelo desemprego, com
mais emprego precário, com uma carga fiscal absolutamente insustentável para as
empresas e famílias, com menos justiça social e sem esperança no futuro. Um povo exausto que só não
resigna, porque nunca resignou!
Um país de Swaps, de BPN´s, de
BPP´s, de subvenções vitalícias, reformas precoces de cor dourada, de mordomias
várias, de submarinos e outras “virtudes” do regime. Um país com uma classe
política impreparada, em muitos casos medíocre, de abundante ambição, mas de escassa
vergonha. Um país em que a justiça não funciona ou não quer funcionar. Um pais que
não responsabiliza os seus políticos pelas suas políticas ruinosas e que, ao
invés, os promove a altos cargos de gestão pública. Um país que gera ricos mas
é incapaz de gerar riqueza! Um país em que a contratação de boys é uma lei e a
realização de concursos feitos à medida para determinadas pessoas é uma ordem!
Todos da cor, todos de confiança. Neste particular, o actual executivo
camarário Mirandense fez escola!
Para substituir esta classe
política de luxo, já envelhecida e justamente reformada, já se perfilam nas
listas para os órgãos autárquicos os seus filhos. Gente predestinada,
iluminados pela mão divina, que nalguns casos nunca geriu mais que mesadas.
Alguns nunca trabalharam, outros nem sequer os seus cursos concluíram. Mas isso
não tem mal, que a cultura vigente é de pouca exigência e escasso escrutínio! Aqui
Miranda também dá cartas!
Um país de políticos de ocasião que em época de eleições ficam terrivelmente solidários, ultra sensíveis aos
anseios das populações e preocupados com o bem comum, políticos que rasgam
estradas e praças, pintam paredes, inauguram obras menores e grandiosas, publicam revistas
do regime, lançam autocarros experimentais para a terceira idade em véspera de
eleições, políticos que levam idosos à praia, aos santuários e até às urnas de
voto. Políticos que gastam, em duas semanas, milhares de euros numa programação artística eleitoralista, irrealista, insustentável, de pura propaganda, enquanto as coleticvidades morrem entregues a si próprias.
Um país de autarcas que durante o
restante mandato hibernam nas profundezas dos seus umbigos e dos seus
interesses e esquecem quem os elegeu! Não deixa de ser estranho que políticos
que prometem e não cumprem vejam quase sempre os seus mandatos renovados! Um país que teima em renovar
mandatos ou eleger quem lhes mente, quem promete demais e cumpre de menos.
As eleições para os órgãos autárquicos
deveriam centrar-se nas pessoas, na sua obra, no seu caracter, na sua
participação cívica, na sua postura na vida e na política, na sua capacidade de
trabalho, no seu dinamismo e capacidade empreendedora,
na experiência de gestão de dinheiros próprios e públicos, na competência, na
liberdade e independência face aos interesses instalados.
Olhem bem para as listas e
avaliem as pessoas, olhem-lhes bem para a cara, tiram-lhes o pulso, meçam-lhes
a competência, a experiência, a capacidade de trabalho e sobretudo o
desprendimento aos lugares, ao poder pelo poder, à vaidade, aos interesses
instalados e votem. Mas desta vez, por favor, não esperem um milagre! Façam
diferente!