A
imagem que aqui colo, sugere que existem dois tipos de pessoas, a saber: as
que pensam pela sua própria cabeça e as que pensam pela cabeça dos outros. Será
assim? Não. Penso que existe ainda um outro tipo, este do género
masculino, o grupo dos que não pensam de todo, se exceptuarmos os pensamentos
com a cabeça da piç*! No meu serviço aparecem muitos gajos desses!
-
Engravidei a patrõa outra vez ó doutor!”
- Então porquê?
-
Aconteceu! Foi um descuido!
- Usaram métodos contraceptivos? Você trabalha? Tem
condição para criar um filho?
- Isso
é que não! Isto está mau! Os gajos da segurança Social não apoiam?
- Claro que apoiam! Esteja descansado! Você fo*a à vontade que a gente paga com os nossos impostos! Não se acanhe!
Claro está que estes gajos só dão
prejuízo ao país! Mas a culpa será só deles?
A responsabilidade é antes de mais do método tradicional de ensino
português baseado no ensino fechado dos conteúdos, sem lugar à formação de
espíritos críticos e criativos, sem lugar para o aluno atuar, agir ou reagir de
forma individual. O abuso das aulas expositivas, com muita teoria e exercícios
sistematizados para a memorização, criou uma legião particular de não
pensantes! A permissão do uso de máquinas calculadoras na aulas, o facilitismo
e as novas oportunidade Socráticas foram a cereja no topo do bolo! Claro que
isto convém aos governantes, eles próprios pouco preparados, exceptuando o
Relvas, e em muitos casos pouco pensantes.
Esta legião de não pensantes engrossa a cada dia que passa. Um dia destes
só temos que nos preocupar com a alimentação e o sexo, como no tempo das cavernas
aliás! Os poucos que vão conseguir conservar os seus empregos ganharão apenas para
pagar impostos e para algumas despesas correntes. Os desempregados viverão da
caridade, lutando apenas para não morrer. Admirável mundo novo este. Para que é
que é preciso pensar?
Para
o regime está tudo perfeito. Desde que o pessoal trabalhe, pague impostos, vote
para garantir a alternância partidária
e morra à porta da reforma, corre tudo bem.
E
para que não haja dúvidas, o regime instituído contrata, meia dúzia de gajos
iluminados, pagos a peso de ouro para nos esclarecerem e basicamente pensar por
nós. O resto, com as necessárias excepções, resume-se uma gigantesca legião de
carneiros não pensantes que se limitam a seguir a corrente!
Pensar
dá um trabalho do caraças e já não se justifica! Ao domingo, por exemplo, um
homem só tem de pensar em comer! Não temos de pensar de todo. O dia não se
presta sequer a grandes movimentos intelectuais. Ressacados da noite da
véspera, só temos que esperar pelo jornal da TVI e absorver os pensamentos
do Prof. Marcelo. Aquilo são injecções de pensamento que dão para a semana
toda. Até os livros e discos que um gajo deve ler e ouvir ele aconselha.
E
se um gajo tiver a sorte de se interessar por futebol temos, no
final da noite de domingo, o grande comentador pensante Rui Santos na SIC-Noticias, que acaba com qualquer dúvida futebolística ou nebulosidade do
sistema. No resto da semana desfilam muitos outros fazedores de opinião. Para quê
um gajo partir os neurónios se temos estes gajos que nos fazem a papa toda! Só temos que nos deitar de papo para o ar e entre duas ressonadelas absorver a
coisa!
Enfim,
não admira então que o Passos Coelho e Victor Gaspar nos digam “ austeridade ou
a morte”. Estão claramente a apostar na nossa incapacidade de pensar
alternativas.
O
que eles nunca nos disseram, foi que as quatro medidas mais gravosas aplicadas
no Orçamento do Estado 2012, nem sequer estavam no memorando. Eles, armados em
alunos superdotados, quiseram ir mais depressa, quiseram fazer um justamente
em tempo recorde e o resultado de tanta inteligência está bem à vista –
acabaram de afundar o barco. Agora, claro está, o buraco é muito maior e portanto mais
austeridade ou morte. Abençoados!
Esta
legião de gente pouco habituada a pensar anda por ai à solta e é perigosa! Um
dos sítios mais perigosos é o facebook! Eles andam por lá aos montes!
Como
lá não é necessário pensar, basta postar lá umas frases inteligentes do
Óscar Wilde, do Gandhy ou madre Teresa de Calcutá, colar umas fotografias de uns
gatos a espreguiçarem-se e já está. Se um gajo for mais exibicionistas cola umas fotos de umas férias em Palma de Maiorca ou em Biarritz e transforma-se imediatamente numa pessoa bué de interessante!
Há
tempos uma rapariga entupia-me diariamente a página com frases feitas
de pessoas famosas. A coisa mais pessoal que colou em meses foi a seguinte frase: “tou
mais pra lá que pra cá. Vou pra caminha”. As pessoas atacaram logo desenfreadas o botão do like e cilindraram-na com 45 gostos! Não
é caso para menos, um gajo lê aquela merda e fica com os neurónios aos saltos. A coisa mais inteligente que colou lá foi uma foto em cuecas e soutien. Um gajo
gosta sempre de ver um bom traseiro e umas boas mamas. Eliminei-a!
Outros
mais virados para a lavoura, para além de pensarem pouco parece não quererem
fazer nenhum. Dedicam-se à produção de legumes e à pecuária no farmeville. Bem
pensado, o país agradece e aquilo é pouco atacado por pragas e ervas
infestantes! Até o Cavaco Silva tem lá uma horta e talvez por isso acordou e
descobriu agora que temos que voltar à terra e ao mar.
Recebo
centenas de convites de jovens agricultores para adquirir a minha parcela de
terreno no farmeville. Respondo sempre que já tenho o meu bocado de terra atrás
da minha habitação e digo sempre que podem aparecer para me ajudar a plantar uns
tomateiros e umas alfaces. Ninguém aparece! Às tantas a enxada do facebook
não faz tantos calos. Mas nem sabem o que perdem! Onde é que no farmeville se encerra uma
tarde de trabalho com uma punheta de bacalhau e um espumante bruto natural? Ah
pois é!
O
facebook é uma máquina de empacotar pessoas. Um gajo mete para lá uns likes
numas merdas e eles traçam-nos o perfil. Aqui há tempos descobri que pertencia
lá a uns quantos grupos que nem fazia ideia que existiam. Fiquei a saber que já
pertenço aos grupos: I have a power, Apoiante da medicina, O apeadeiro de Baco,
Grupo dos que levam bucha para o emprego, Grupo dos que usam navalha pró petisco” entres outros. Os gajos vendem esta
informação toda às multinacionais, acreditem!
Mas
o facebook tem coisas mais estranhas. Um dia uma amiga partilhava a dor
de ter perdido o pai. Levou logo com dezenas de likes! Afinal as pessoas
gostaram do quê? Que o homem tivesse morrido? Da dor? Ninguém sabe!
O
pessoal deixou-se ir! Imaginem que me convidaram para um jantar de natal em que a cozinheira de serviço se chama bimby. Logo eu que cura as minhas depressões no fogão a
saltear legumes na frigideira! Perguntei logo se a gaja também fazia
broc**s! Parece que não! Aquilo faz tudo menos isso. Ninguém pensa em nada!
Esta
alienação vai acabar por nos matar a todos. Acreditem!
Este
texto é mera ficção, ainda que, aqui e ali, enriquecido por factos reais. A
referência a sexo e palavrões não era de todo necessária. Mas eu assumo o
risco!
1 comentário:
Nunca se deve negar o poder libertador de um bom palavrão! Lava a alma.
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