segunda-feira, 23 de abril de 2012

Rota das adegas




Imagino o que terão pensado os outros 399 participantes, equipados com os seus modelos topo de gama, com travões a óleo e suspensões integrais, quando me viram chegar com a minha Delfina, bicicleta de marca branca, modelo de 2009 que comprei por 60€ num pacote que incluía ainda um capacete, uma t-shirt, duas sandes de torresmos e um sumo! Estriei-a à altura numa demorada viagem entre Miranda do Corvo e Coimbra, na qual ela com um pedal partido, me mandou fazer quase metade do caminho a pé. A coisa prometia portanto!
A primeira ameaça que recebi da organização e de outros concorrentes foi a de que em caso de furo ou avaria ninguém tinha uma peça sequer compatível com a minha maldita bicicleta. Não me amedrontei! Afinal o meu objectivo estava claramente definido.
Como os primeiros 25 quilómetros eram cronometrados, na partida, encostei-me estrategicamente à berma para deixar passar aqueles cavalos de corrida, não fossem eles abalroar-me e impedir-me de alcançar o objectivo.
A primeira vitima foi o meu amigo Pedro Monteiro, agora presidente do Turismo Centro de Portugal, quiçá mais habituado à pose fotográfica que ao todo o terreno, rapidamente se estatelou contra uma pedra, ferindo-se irremediavelmente num joelho, forçando-o a abandonar.
Ao longo desses terríveis primeiros 25 quilómetros fui ultrapassado por várioas dezenas de concorrentes, mas para regozijo meu, com a minha Delfina ainda segura de si, passei também por uns quantos com as suas máquinas furadas ou avariadas, o que criou em mim um sentimento contraditório, se por um lado não era o último, por outro deixou-me uma certa insegurança. Afinal se furasse no meio daquelas vinhas sem fim, a que hora chegaria ao objectivo – A bucha!
O primeiro abastecimento estava situado na aldeia da Pena. Com uma ementa variada que começava no bacalhau assado e continuava com cabidela de leitão, umas divinais iscas de fígado, porco no espeto, charcutaria assada diversa, etc, etc... No que concerne ao estado líquido contamos com a presença dos stands das empresas Quinta de Baixo, Sogrape – com o espumante Mateus rosé e a Quinta do Encontro. Decidi-me por umas iscas de fígado que confrontei com vinhos espumantes dos três produtores, salientando-se o bom nível de todos os vinhos, em especial a superior harmonia da Quinta de Baixo, que me encheu as medidas. Sublime!
Por mim ficava ali eternamente agarrada à isca e ao copo, mas tinha de partir! Esbocei um primeiro arranque em grande estilo mas eis que dou de caras com a miss Maxmen 2010, Barbara Brandão, madrinha da prova. Quase cai! Envergonhado abortei a descolagem, não fosse ela troçar e desdenhar da minha Delfina.
Quando cheguei a casa fui à net ver as fotos da Barbara Brandão, que não conhecia, e fiquei abismado como uma produção fotográfica pode transformar uma mulher bonita, sem dúvida, numa autêntica deusa! A verdade é que se também a minha Delfina fosse ao Photoshop, a coisa chiaria mais fino! Mas ninguém quer saber!
Condenado a ser o último, lá me quedei mais um pouco pelo espaço a beber mais uns flutes da Qta de Baixo enquanto aguardava que aquelas bestas de duas rodas partissem.
Mais 15 quilómetros de puro todo o terreno e todos os meus receios se confirmavam - a puta da bicicleta começava finalmente a ceder … o pedal voltou a portar-se mal! O mesmo! Com galhardia fiz-me à estrada apenas com um pedal e um objectivo na cabeça - chegar ao objectivo II – A bucha na aldeia da Póvoa da Lomba.
Aqui manteve-se a gastronomia regional mas mudaram os vinhos – desta vez marcavam presença as Caves Montanha, a Adega Coop de Cantanhede e o incontornável Mário Sérgio com a sua Quinta das Bageiras.
A apenas a alguns quilómetros da meta, descansados, eu e o meu amigo Décio Matias e mais uns quantos irredutíveis amigos por ali ficamos esquecidos a contemplar os prazeres do ananás com presunto e a pasta de queijo na broa sempre acompanhados pelo arrebatador espumante Quintas da Bageiras baga 2009. Edílico!
Os restantes cinco quilómetros foram pouco menos que tortura. Com a bicicleta toda partida e o corpo dorido e a roçar a bebedeira, arrastei-me até à meta e ao banho frio. Por especial cortesia do último fiquei em penúltimo!


Retemperados, seguimos para a Adega Cooperativa de Cantanhede, onde enfrentamos galhardamente o estaladiço leitão à bairrada massivamente regado com Marquês de Marialva espumante reserva 2009.


Esta rota das adegas é para repetir, mas para a próxima vou a pé que chego mais depressa!

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