terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CGTP versus Glorioso




O autocarro fez-se à estrada a todo o vapor. Lá dentro 54 fervorosos benfiquistas de cachecóis ao pescoço e adrenalina no limite. “ Bom dia e obrigado a todos vocês, que nestes tempos de crise se juntaram a nós nesta viagem ao estádio do nosso glorioso. A seguir serão servidos uns bolinhos e jeropiga. Viva o Benfica!”, anunciou o animado organizador da excursão da Casa do Benfica de Miranda do Corvo ao microfone. Isto está a melhorar, pensei! O autocarro deslizava agora a grande velocidade pelo asfalto 1000 vezes pago da A1, com o pessoal agora mais composto pelos vapores da jeropiga. Na estação de serviço de Pombal, cerca de 60 a 70 autocarros estacionados e uma multidão à volta do farnel. Pensei: “porra, o benfica é mesmo grande, é o ópio do povo nestes tempos difíceis. Devia receber um subsídio governamental por distrair o povo! Mais à frente ultrapassamos mais um autocarro com um cartaz colado ao vidro traseiro anunciando - “CGTP Porto – Nº 18”. A seguir ultrapassamos dezenas de outros autocarros carregados de gente de face tranquila e olhar vazio!
Milhares e milhares de pessoas, um verdadeiro exército de trabalhadores devidamente organizados e treinados para uma actuação coreografada ao ínfimo pormenor. Merda, e eu a pensar que eram adeptos do benfica!
Milhares de pessoas mais ou mesmo instrumentalizadas por uma industria que movimenta milhões e dá emprego a milhares de sindicalistas. Muitos não apertam um parafuso há anos!
A CGTP habitua-nos a isto há 37 anos – abandono da mesa de negociações da concertação social e mais tarde o desfile de uma poderosa indústria sindical pelas ruas de Lisboa! Muita daquela gente tem cara de não saber ao que vai. Talvez vá apenas pelo passeio e pelo copo e bucha!
O que seria deste país sem esta indústria? O que perde este país com ela? Não faço a mínima ideia. À noite na televisão, o desfile ganha uma beleza que exalta, os cartazes tocam nas feridas abertas pelo impreparado Passos Coelho. Os testemunhos emocionam-nos. Vivam os trabalhadores portugueses!
A coreografia começou. Garay deu o mote, Gaitan levantou o estádio com aquele zizaguiar que só parou no fundo da baliza! Rodrigo acabou com eles!
Viva o grande benfica que amanhã recomeça a crise!

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